Império do mau caráter

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Publicado Quinta, 14 de Março de 2019 às 07:09, por: CdB

A ética foi banida e substituida pela generosidade pontual em casos extremos, com o título de "democracia social".

Por Zillah Branco  - de  Lisboa Assim como nos séculos XVIII e XIX houve uma valorização na percepção da classe trabalhadora explorada pelas elites por filósofos humanistas com pensamentos religiosos ou ateus que defendiam os princípios éticos e valorizavam a dignidade, apesar de divergirem na ação social generosa em lugar da solidáriedade, no século XX o sistema capitalista fortaleceu-se com a imposição de ações falsas vestidas de princípios democráticos e humanistas. Para alcançarem o poder político em cada nação passaram a escolher pessoas que aceitaram a corrupção para representarem o papel dúbio de "democratas" condicionados aos interesses do sistema financeiro que prioriza claramente o fortalecimento da elite exploradora, que tem acesso a todos os privilégios, em detrimento do povo que inclui desempregados, trabalhadores braçais e os com formação profissional média.
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Para alcançarem o poder político em cada nação passaram a escolher pessoas que aceitaram a corrupção
A ética foi banida e substituida pela generosidade pontual em casos extremos, com o título de "democracia social". Com a supremacia dos Estados Unidos da América como potência econômica capaz de gerir a fase imperialista mundial, concentrando o capital no controle do sistema financeiro e do mercado externo, que se tornou um poder acima do governo naquela nação, deu início à escolha de presidentes que aceitavam qualquer imposição da lógica capitalista que feria os básicos princípios de idoneidade. Foi o caso de Trumam que se responsabilizou pelo bombardeamento de Dresde, quando a Alemanha já havia sido vencida, e de Hiroshima e Nagazaki, com bombas atômicas quando o Japão já reconhecera a derrota. Só mesmo um homem capaz de executar atos de traição às populações civis para demonstrar o poder militar do imperialismo, ou seja, despido de qualquer dose de sentimento humano e de respeito pelos povos, poderia desempenhar este nefasto papel. Estava lançado o modelo de presidente nacional susceptível de controle superior. Aos poucos foi sendo aperfeiçoado este modelo ideal, que era vinculado aos partidos de direita, deixando a máquina do governo sem espaço para alternativas que os de centro - que se diziam democratas, tentavam quando eleitos. E, se insistiam, sofriam atentados, como ocorreu com Kennedy. O nível mental dos presidentes entrou em declinio tanto nos EUA como nos países mais ricos da Europa algumas vezes substituidos por mulheres com melhor formação mas que sofriam os preconceitos machistas somados às restrições criadas pelas super-estruturas imperialistas. O mundo foi surpreendido pela visível ignorância de Bush, mas acabou por se acostumar com o que também via nos "ingênuos" democratas tipo Clinton, ou no esperto mas máu carater, Tony Blair na Inglaterra, ou no pasmado François Hollande da França. Foi então que surgiu o indefensável Trump que aceita fazer qualquer papel, mesmo contraditório com o que afirma, e depois Bolsonaro que é visivelmente um boneco de ventríloquo. São os presidentes "uteis" ao imperialismo que, por trás do governo formal, altera leis, desmonta instituições do Estado, controla as forças policiais treinadas a utilizarem recursos de bandidos com isenção de responsabilidade pessoal, vende o patrimônio nacional a preço de feira. A corrupção resolve tudo e qualquer problema. Diante dessa falência humana no poder nacional as ditaduras militares surgem como defensoras do território e do equilíbrio social mantido com armas e muita violência, pois também foram formadosela moda anti-ética do imperialismo.

Formação cultural massificada

Paralelamente a este processo que impede a realização de governos realmente democratas, a mídia hegemônica semeia o combate aos princípios éticos como "superados históricamente" e promove a "esperteza nos jogos políticos" em lugar da inteligência criadora aplicada em liberdade. Este caminho da formação mental das novas gerações invadiu organismos universitários, igrejas e instituições sociais criadas para defenderem os povos das ambições políticas dos poderosos corrompidos. Como refere J.M. Goulão no livro "O Labirinto da Conspiração" (editora Caminho, 1986, Lisboa) os tentáculos do imperialismo norte-americano invadiram a Máfia, a Opus Dei e a Loja Maçônica (o que ficou comprovado no fim da década de 1970 e até 1986 no rumoroso caso relativo ao assassinato do juiz italiano Aldo Moro), instituições com prestígio na ação religiosa e política em defesa de maior justiça social. Hoje ocorre a denúncia contra a Igreja Evangélica Pentecostal que tem uma ramificação invadida pelo imperialismo com aparente "democracia" nos costumes e age ligada à emigração, ao tráfico de crianças órfãs, ao abastecimento de mão de obra para trabalhos domésticos ou eventuais, e que promoveu a eleição de Bolsonaro de acordo com o projeto de Steve Bannon, assessor de Trump. A CIA passou a exportar gabinetes de assessorias para qualquer matéria administrativa para atender organismos do Estado. Foi a moda da terceirização que substituiu os funcionários públicos que iam para a prateleira por terem opinião própria inconveniente aos comandos externos, ou foram despedidos por não terem contrato. Estes assessores entram em toda a estrutura institucional do Estado e do próprio Governo e orgãos de soberania como "piolho por costura". Isto forma uma mentalidade que nega os princípios éticos e de responsabilidade social como "questões fora de moda". O moderno, para eles, é ser "egoista" e "esperto" para enganar Deus e o mundo. O mau funcionamento do sistema jurídico, com processos que caducam deixando o infrator privilegiado sem penalidades ou livres graças às interpretações pessoais de juizes "amigos do réu", alimentaram os "espertos" (sem princípios morais e éticos) a também criarem gabinetes de "consultoria" para fiscalizarem administrações públicas. É corrente a explicação de que ao descobrirem falhas pedem parte do prejuizo causado para darem o aval de que está correto. Se não, denunciam o erro ou crime. Assim, forma-se uma mentalidade venal que se alastra pela sociedade ligando a elite a uma camada social capaz de eleger Trumps e Bolsonaros, que manobra as leis e usa a corrupção como ponta de lança para qualquer negócio ou jogada política. Este apagamento de princípios baseados na dignidade e na solidariedade instrumentaliza a dissolução dos costumes e das instituições que devem ser pilares do Estado. Com a privatização de serviços de utilidade pública - saúde, educação, segurança social, transportes - e das empresas públicas que além de constituirem um patrimônio nacional gerem a comunicação e o mercado - correios, produção de energia e petróleo, rádio e televisão, indústria farmaceutica e alimentar, que asseguram a capacidade de manter a democracia interna e a soberania nacional. A quebra dos princípios éticos e morais desarma a população que aceitará fácilmente a imbecilização transmitida pelas propagandas através de jogos, vídeos, sons que perturbam o equilíbrio nervoso, velocidades alucinantes e drogas de todo tipo que são incluidas em pastilhas e liquidos que distraem sobretudo as crianças e jovens, nos esquemas de corrupção e do crime organizado que foram criados de fora para dentro para destruir a democracia social que se desenvolvia no Brasil projetando-o a nível mundial.

Resistência e luta popular

Resistir à esta demolição demoníaca exige uma decisão bem pensada, balanceada com o conhecimento da história da nossa civilização, sobretudo no que toca à formação da boa gente brasileira com as suas diferenças na forma de caminhar pela vida sempre em busca de solução para os mil problemas da vida, sobretudo a dos outros mais abandonados. A responsabilidade dos que recomendam a resistência a este caos programado pelo imperialismo é imensa, não pode resvalar em aparentes facilidades, em oportunidades que parecem cair do céu. Resistir exige a tarefa de construir uma sólida estrutura de sentimentos patrióticos, éticos, humanistas, que despertem o entusiásmo nos que têm os mesmos anseios e que ainda têm medo de se expor nesta selva que envolve a humanidade proibindo a justiça e vendendo a alma. Para isso é preciso aprender com o povo como sobreviver sem aceitar a escravidão, como manter a dignidade e conservar a idéia própria para ensinar aos filhos o caminho da solidariedade e da busca do saber. A resistência popular exige a definição da meta social e o compromisso de todos na construção de uma nova sociedade fraterna e igualitária, sem privilégios, sem preconceitos, com lideranças sem patrões. Ainda temos uma Constituição que prevê a realização de novas eleições diante do fracasso do atual governo que comprovou em dois meses ser absolutamente incompetente para dirigir o país e manter a sua soberania política e econômica ameaçada pelo imperialismo norte-americano. 0s eleitores de Bolsonaro têm a oportunidade de corrigirem o erro cometido sob a pressão dos traidores submissos ao imperialismo, e de somarem aos milhões que querem defender a dignidade do Brasil e os direitos democráticos do povo trabalhador! Sigamos o exemplo de Lula na sua vida, da fome à luta sindical, do trabalho operário à Presidência da República com o apoio popular e o aplauso internacional, herói do povo brasileiro e da Paz mundial! Zillah Branco, é Cientista Social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e trabalho no Chile, Portugal e Cabo Verde.

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

 
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