Maiores custos de alimentos, vestuário, remédios e energia elétrica pressionaram a inflação acima do esperado, mostraram dois índices divulgados nesta quarta-feira, consolidando a expectativa que o centro da meta deste ano não será cumprido.
Economistas disseram, no entanto, que como a aceleração deveu-se a movimentos sazonais e de preços monitorados e administrados, ela não chega a preocupar, e que o maior risco para a inflação está à frente, devido à recente desvalorização cambial.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) subiu 0,54 por cento em maio, contra 0,21 por cento em abril, disse o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) de São Paulo subiu acelerou para 0,49 por cento na terceira quadrissemana de maio, ante 0,39 por cento na segunda, informou a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
“A dinâmica de inflação segue relativamente estável, mesmo o núcleo tem estado estável. Não é uma dinâmica perversa de elevação de preços, são choques de oferta”, disse Mauro Schneider, estrategista do ING.
Os preços de vestuário costumam subir com a entrada da coleção outono-inverno, e os remédios estão refletindo um reajuste nacional concedido no final de março.
Já os alimentos estão revertendo as fortes quedas vistas anteriormente, sobretudo de hortaliças, e a energia costuma ser reajustada nessa época do ano.
A expectativa média de analistas para os dois índices era de uma alta de 0,4 por cento. O IPCA-15 é tido como uma prévia do IPCA –referência do sistema de meta de inflação– do mês.
Para Alexandre Maia, economista da GAP Asset Management, a alta de alimentação acende “uma luz amarela” para os índices do mês da Fipe e do IPCA, mas isso não atrapalha a “dinâmica de médio prazo”.
Segundo ele, o comportamento de médio prazo da inflação vai estar associado à taxa de câmbio. O dólar está acima de 3 reais há cerca de três semanas.
Os economistas estão preocupados também com um eventual aumento de combustíveis pela Petrobras em razão do salto do petróleo internacional.
Eles recentemente revisaram suas projeções para o IPCA de 2004, para entre 6,5 e 7 por cento, e disseram que os números desta manhã vêm apenas reforçar essa previsão.
A meta de 2004 é de 5,5 por cento, com tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo, mas o Banco Central disse várias vezes que busca alcançar o centro.
No ano até maio, o IPCA-15 acumulou alta de 2,76 por cento.
Os economistas ouvidos disseram que o IPCA-15 sugere que o IPCA de maio será superior ao de abril, que foi de 0,37 por cento.
Massaru Nakayasu, economista-chefe do Banco de Tokyo Mitsubishi, acha que o IPCA pode até mesmo superar a taxa de 0,54 por cento do IPCA-15.