Grupos terroristas estão cada vez mais usando dinheiro de vendas ilícitas como música pirata e videogames falsificados para financiar suas organizações, disse o chefe da Interpol a parlamentares norte-americanos na quarta-feira.
– A Interpol está soando o alarme de que o crime contra a propriedade intelectual está virando o método preferido de financiamento para vários grupos terroristas – disse o secretário-geral da Interpol, Ronald Noble, ao testemunhar perante um comitê sobre Relações Internacionais do Congresso dos Estados Unidos.
O crime organizado sempre foi ligado à indústria do crime de propriedade intelectual, que vende CDs, DVDs, software e outros itens pirateados, disse Noble. Mas agora o Hizbollah, grupo de guerrilheiros muçulmanos xiitas, os separatistas chechenos e os paramilitares da Irlanda do Norte também recebem dinheiro de vendas piratas.
Em alguns casos, estes grupos até mesmo vendem ou distribuem o contrabando diretamente, disse. Cerca de 5 a 7 por cento do comércio global, ou 450 bilhões de dólares, vêm das vendas no mercado negro de bens falsificados, disse Noble, destacando que essa atividade é relativamente de baixo risco em termos de punição.
A procura é alta porque muitas pessoas não percebem que comprar CDs, DVDs ou videogames pirateados é um crime, ele acrescentou. O chefe da agência de polícia internacional disse que rastrear informações que liguem os grupos terroristas aos financiamentos é complexo e é preciso mais coordenação mundial.
A Interpol propôs um programa de três anos visando combater o crime de propriedade intelectual, em parte para melhorar as investigações transnacionais e com várias agências.
Representantes da indústria da música também testemunharam, dizendo que mundialmente cerca de dois em cada cinco gravações são cópias piratas.
Eles citaram casos na Europa, na América do Sul e na Ásia de grupos considerados organizações terroristas que estavam envolvidos na venda de música pirateada. Noble mencionou três casos envolvendo libaneses étnicos na América do Sul, que segundo ele estavam canalizando dinheiro das vendas de música e videogame piratas para o Hizbollah e para outras organizações relacionadas.
Foram encontradas cartas com uma pessoa presa no ano passado de grupos “suspeitos de serem associados ao Hizbollah” agradecendo pelas doações, disse Noble.
Ele falou de outros grupos, inclusive simpatizantes de “terroristas fundamentalistas” do norte da África, que adquiriram dinheiro de vendas piratas, mencionando um incidente que envolveu supostas conexões com a rede Al Qaeda, de Osama bin Laden.