O Irã fornece armas e dinheiro a grupos xiitas no Iraque para comprar sua lealdade, mas a tendência é que a influência iraniana diminua no país, conforme os iraquianos se concentrem mais em seus próprios interesses, disse uma autoridade militar norte-americana, nesta quinta-feira, que não quis ser identificada. Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha já acusaram o Irã de alimentar a violência no Iraque, mas a República islâmica nega.
A fonte deu vários detalhes e disse que as mais recentes apreensões de armamentos, entre eles explosivos com marcas de que vêm do Irã, mostram que a política de armar a milícia iraquiana conta com o apoio do alto escalão do Irã, não sendo o resultado da ação de agentes iranianos isolados.
– Dá para ver que eles estão armando todo mundo. Aliás, ninguém neste país é comprado, mas sim alugado – disse ele.
A fonte discutiu a questão com jornalistas internacionais em Bagdá, nesta quarta-feira, sob a condição de não ser identificada, e que a transcrição das declarações somente fosse divulgada nesta quinta-feira. Ele avaliou que o Irã enviou “milhões de dólares” para a milícia do Exército Mehdi, comandada pelo clérigo xiita Moqtada al-Sadr, e também para elementos isolados que escaparam ao controle direto de Sadr.
Entre as armas iranianas encontradas no Iraque estão mísseis terra-ar e foguetes antitanque como os usados pelo Hizbollah no Líbano contra Israel, além de projéteis explosivos (EFP) que são comumente usados nas bombas de beira de estrada contra soldados norte-americanos e britânicos.
– Quando se fala de EFP, eles são quase que só iranianos – disse.
Segundo ele, um conjunto de 4 a 6 EFP foi encontrado há alguns meses em Bagdá, junto com explosivos militares C-4 com etiquetas em inglês, e os códigos de fabricação batiam com material iraniano que Israel diz ter apreendido a caminho do Líbano. Etiquetas semelhantes apareceram em explosivos encontrados por soldados britânicos no sul do Iraque, disse ele.
– O controle de explosivos militares no Irã é feito pelo aparato estatal. É uma decisão deliberada da parte de elementos associados ao governo iraniano afetar esse tipo de atividade – afirmou.
Os iranianos são xiitas, assim como a maioria dos iraquianos. Na época do domínio do sunita Saddam Hussein, vários partidos religiosos xiitas que hoje fazem parte do governo iraquiano tinham sede no Irã. Mas a fonte disse que os partidos vistos como pró-Irã estão perdendo terreno no Iraque para grupos como o de Sadr, que se apresentam como nacionalistas iraquianos.
– Para que eles atuem efetivamente dentro do Iraque, têm de tomar a decisão de ser iraquianos – disse.
Ele acrescentou que o Irã vem fomentando a violência no Iraque, especialmente em regiões como Basra, no sul, mas que isso pode ser contraproducente por causa da preocupação iraniana de que possa haver instabilidade entre as minorias árabes e curdas do próprio Irã.
– Não é bom para eles ter um Iraque desestabilizado, e sabe por quê? Há árabes no sul (do Irã) e curdos no norte, que representam ameaças significativas à estabilidade interna do Irã. Mas, mesmo assim, eles não sabem bem quem vai ficar por cima. E então basicamente financiam todo mundo – concluiu.