Isolado e em queda livre, Bolsonaro corre risco de ser substituído por Mourão

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Publicado Sábado, 14 de Agosto de 2021 às 12:58, por: CdB

Bolsonaro é investigado; além da disseminação de notícias falsas, por mau uso do dinheiro público, entre outros crimes que, uma vez comprovados, sustentarão a abertura de um processo contra ele e o consequente afastamento do cargo, com a decorrente decretação de inelegibilidade já no ano que vem.

Por Redação - de Brasília
Em um momento de extremo desgaste para o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), em que é investigado por crimes contra a saúde pública e o Estado democrático de Direito, o peso das acusações acaba de dobrar. O ministro da Justiça, Anderson Torres, reconheceu em juízo perante o corregedor-geral eleitoral, ministro Luis Felipe Salomão, que não há uma única prova de que tenham ocorrido fraudes nas eleições brasileiras, ao contrário do que o seu superior imediato insiste em afirmar.
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Bolsonaro pretende colocar em dúvida o resultado eleitoral que ele, de antemão, sabe que não lhe favorecerá
Torres foi ouvido no âmbito do inquérito administrativo aberto pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no início deste mês, para investigar Bolsonaro por ataques ao sistema eleitoral. Em uma transmissão ao vivo, pela internet, o ministro participou, ao lado do presidente no dia 29 de julho, por mais de duas horas, da exibição de teorias falsas, cálculos equivocados e vídeos antigos, já verificados e desmentidos, mas que ainda circulam na internet como falsos indícios de fraude no sistema eleitoral. Bolsonaro é investigado; além da disseminação de notícias falsas, por mau uso do dinheiro público, entre outros crimes que, uma vez comprovados, sustentarão a abertura de um processo contra ele e o consequente afastamento do cargo, com a decorrente decretação de inelegibilidade já no ano que vem. Até que o país realize novas eleições, em outubro de 2022, ocuparia o cargo o vice-presidente, general Hamilton Mourão (PRTB). Fiasco militar Na última terça-feira, Mourão e o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, reuniram-se reservadamente logo após o fiasco liderado por Bolsonaro no desfile de veículos militares pela Praça dos Três Poderes. A conversa aconteceu na casa de Barroso, que convidou o general para o encontro. Preocupado com o risco de ruptura institucional, o ministro foi direto ao ponto. Quis saber se as Forças Armadas embarcariam em uma aventura golpista promovida pelo mandatário neofascista e ouviu, de pronto, que “não”. A reunião, fora da agenda oficial, foi cercada de sigilo até a manhã deste sábado. Mourão não foi convidado e sequer compareceria, se o fosse, à parada militar que passou ostensivamente nas portas do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) apenas algumas horas antes de a Câmara votar a polêmica do voto impresso. A proposta foi derrubada em um ambiente de alta tensão, com deputados acusando o governo de querer intimidar o Legislativo.

Voos rasantes

No encontro com Barroso, que também é ministro do STF, Mourão o tranquilizou. Garantiu que as Forças Armadas não apoiariam um golpe de Estado e não há ninguém com força suficiente para impedir a realização de eleições, em 2022. O vice-presidente, no entanto, ainda tentou colocar panos quentes na tentativa de apaziguar a crise institucional que se agravou, no país, após uma série de ataques de Bolsonaro aos demais Poderes da República. Ele tem repetido, com frequência, que não permitirá a realização de eleições e a existência de um plano deliberado para a reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no ano que vem. Chamado de “imbecil”, “idiota” e “filho da p...” pelo presidente, Barroso não escondeu do general que se mostrava perplexo com o que vinha ocorrendo. Soube que as ameaças teriam incluído até o uso de voos rasantes com um dos jatos supersônicos da Força Aérea Brasileira (FAB) sobre o prédio do Supremo, quando o ministro da Defesa ainda era Fernando Azevedo e Silva.

Urnas eletrônicas

Mourão disse mais de uma vez ao presidente do TSE que quem comandava as tropas não avalizaria qualquer golpe. Afirmou que a chance de isso ocorrer era “zero” porque as Forças Armadas se pautavam pela legalidade. Barroso se mostrou mais tranquilo após o encontro. Ciente de que não há margem para uma ruptura institucional, o STF tem ampliado o combate aos inimigos da Constituição Federal, mesmo sob os disparos do outro lado da rua, a partir do Palácio do Planalto. Na manhã passada, a pedido da Polícia Federal (PF), foi preso o presidente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Roberto Jefferson, por práticas semelhantes à do chefe do Executivo. Bolsonaro, por sua vez, é alvo de inquérito administrativo aberto no TSE, que investiga "relatos e declarações sem comprovação de fraudes no sistema eletrônico de votação com potenciais ataques à democracia". Salomão havia notificado Bolsonaro, em junho, a apresentar provas de irregularidades nas urnas eletrônicas, mas não obteve resposta.

Inelegibilidade

O inquérito apura a possível prática dos crimes de corrupção, fraude, propaganda eleitoral antecipada, abuso de poder econômico e político e uso indevido dos meios de comunicação social por Bolsonaro. Ainda na quinta-feira, foi encaminhado ao TSE um relatório da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), que exibiu a polêmica live de Bolsonaro, sobre o possível uso da entidade para promoção do governo federal. Na esfera eleitoral, a depender do resultado do inquérito e de um eventual processo com direito de defesa, se o TSE decidir condenar Bolsonaro, a Corte tem poder para declarar a sua inelegibilidade em 2022, o que o impediria de tentar a reeleição.
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