Ao defender o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, de críticas por falta de empenho na aprovação do novo salário mínimo, o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP) trouxe à tona uma disputa velada no eixo central do governo.
“O ministro José Dirceu tem sido criticado de forma direta e indireta como pessoa que não tem se empenhado na questão do mínimo. É injusto o que muitas pessoas têm feito”, disse João Paulo, durante evento sobre investimentos em infra-estrutura. À mesma mesa estavam um constrangido Dirceu e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), entre outros.
A solidariedade prestada por João Paulo mostrou a disputa entre Dirceu e o ministro Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que assumiu a coordenação política do governo com a reforma ministerial de janeiro, tendo como pano de fundo a votação do mínimo de 260 reais. Passado o pico do escândalo envolvendo o ex-assessor do Planalto Waldomiro Diniz, Dirceu voltou à ativa na articulação política, espaço reservado agora a Rebelo.
Na semana passada, Rebelo liderou a vitória do governo na Câmara dos Deputados sobre o valor do mínimo, mas a MP ainda precisa ser aprovada pelo Senado, onde a base governista é mais frágil e o ministro não tem tanto trânsito.
Mas o próprio Rebelo procurou minimizar eventuais desavenças no governo.
“O ministro José Dirceu tem recebido a solidariedade de todo o governo. Neste momento, ele tem se empenhado em todas as tarefas importantes para o governo e para o país”, disse Rebelo. “Qualquer versão que gire em torno de divergências seja levada para o campo das idéias e não se crie qualquer tipo de mal-entendido dentro do governo.”
Já um deputado que costuma funcionar como interlocutor do Palácio do Planalto foi mais direto. “O João Paulo achou que estava ajudando (com a defesa de Dirceu)… mas o pau está comendo mesmo.”
Dirceu, por sua vez, deixou o evento apressadamente e pisando duro, para não ter que falar com os jornalistas.