Jordânia caça tesouros roubados do Iraque

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Publicado quinta-feira, 16 de junho de 2005 as 10:27, por: CdB

Escondidos em carros, casacos e até em sacos de cebola, antigos tesouros estão sendo retirados do Iraque, e muitos deles reaparecem na Jordânia, onde as autoridades apreenderam 1.347 peças em dois anos.

Os artefatos apreendidos, mantidos em um depósito secreto, incluem um relevo de marfim assírio saqueado do Museu de Bagdá quando da queda do regime de Saddam Hussein, disseram nesta semana autoridades da Jordânia e da Organização das Nações Unidas (ONU).

– Estas peças são inestimáveis. Elas são muito importantes. Elas nos contam muito sobre a história, os hábitos e a moda da época – disse Philippe Delanghe, do escritório iraquiano da Unesco (órgão da ONU para cultura e educação), que funciona em Amã.

– O governo jordaniano é um dos mais ativos na região em termos de combater o tráfico ilícito de artefatos iraquianos – afirmou.

A Jordânia, que tem uma longa fronteira com o Iraque, é supostamente uma importante rota para o contrabando de antiguidades entre as margens do Tigre e do Eufrates e as prateleiras dos ricos colecionadores da Europa e dos Estados Unidos.

Importante aliada dos EUA, a Jordânia reforçou a segurança em suas fronteiras, e as autoridades aduaneiras e a polícia receberam treinamento da Unesco e dos “carabinieri” italianos para identificar tesouros roubados.

Pequenas quantidades de objetos também foram encontradas no Kuwait, na Arábia Saudita e na Síria. Mas nada que superasse as apreensões na Jordânia. Também foram achados itens na Itália e nos Estados Unidos, de acordo com as autoridades.

A maior parte das antiguidades recolhidas na Jordânia veio dos vastos sítios arqueológicos iraquianos e de depósitos de Mosul e Nassiriya, segundo Fawwaz Khraysheh, diretor do Departamento de Antiguidades da Jordânia.

Entre as peças há tabletes cuneiformes – blocos de argila com marcações que são consideradas a origem da escrita – jóias em bronze, figuras de cerâmica e moedas islâmicas do período Omeyad (século 7o.).

Khraysheh disse que as peças, assim como quadros e uma foto de Saddam sorridente, roubada por um jornalista estrangeiro de um palácio do ex-ditador, serão devolvidas quando o Iraque solicitar.

Embora o saque dos tesouros iraquianos já dure mais de uma década, ele se agravou durante o caos que se seguiu à ocupação norte-americana, em 2003, alimentado pela insegurança e pela existência de um mercado negro mundial.

– O saque de sítios antigos no Iraque é um problema alarmante – disse Chiara Bardeschi, que dirige o Comitê Internacional de Salvaguarda do Patrimônio Cultural do Iraque, uma comissão da Unesco, em entrevista por telefone, de Paris.

A peça mais valiosa confiscada na Jordânia é um relevo assírio de marfim, datado de aproximadamente 2000 a.C. Acredita-se que ele fosse parte da cama de um rei assírio. O relevo representa cenas de caça e da corte.

Ele foi dividido em pedaços pelos contrabandistas e apreendido no posto fronteiriço de Karama. Meses antes, em abril de 2003, o Museu Nacional, em Bagdá, foi invadido e teve cerca de 15 mil peças roubadas. Cerca de metade delas foi recuperada.

As autoridades dizem que as apreensões podem ser apenas uma pequena proporção de tudo o que foi retirado do Iraque, país que é considerado o berço da civilização ocidental.

Os especialistas não sabem dizer o tamanho do patrimônio arqueológico iraquiano – há mais de 10 mil sítios arqueológicos registrados e nenhum inventário dos objetos que eles contêm.

Os saqueadores são bem mais organizados e engenhosos.

– Ouvimos histórias de artefatos escondidos em sacos de feijão e cebola e carregados em caminhões – disse Delanghe.

Devido à anarquia em várias partes do Iraque, Delanghe considera que será difícil conter o tráfico de antiguidades enquanto a insegurança não for restabelecida.

-Sabemos que os artefatos estão desaparecendo de todos os sítios. Não podemos nem ir até eles. São peri