Promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e mediado por Rita Casaro, diretora da instituição, o debate teve ainda a presença de Tereza Cruvinel, colunista do portal Brasil 247.
Por Redação - de São Paulo
Diante da reviravolta no protagonismo da Operação Lava Jato, o foco também se volta para o papel desempenhado pela mídia tradicional no destaque dado às ações do juiz e dos procuradores à frente da operação. Em debate realizado na noite passada, a jornalista e escritora Cristina Serra, lamentou que jornalistas tenham ido “comer na mão dos procuradores”, se sujeitando a determinados objetivos políticos. Para a jurista Carol Proner, alguns profissionais da comunicação “sacrificaram a sua independência e abandonaram o senso crítico”.
Promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e mediado por Rita Casaro, diretora da instituição, o debate teve ainda a presença de Tereza Cruvinel, colunista do portal Brasil 247 e ex-presidenta da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). O evento é parte de atividades alusivas ao Dia Internacional da Mulher, celebrado segunda-feira.
— A Lava Jato foi uma conjunção de esforços em que a mídia teve um papel muito importante. Essas figuras públicas terão seu acerto de contas, mas a mídia não. A mídia não irá a tribunal algum. Mas que sirva para uma reflexão importante — disse Cruvinel.
A redação
Para ela, as redações perderam sua pluralidade, a diversidade de pensamentos.
— Terrível é quando o aquário e a redação começam a pensar a mesma coisa — comentou.
Aquário é antigo jargão usado para designar o local onde costumam ficar as chefias, geralmente em uma sala envidraçada.
Debate político
Cristina Serra, por sua vez, que antes de se tornar um rosto conhecido na TV Globo (da qual saiu em 2018, após 26 anos de carteira assinada) passou por redações como as do Jornal do Brasil e da revista Veja, também apontou as transformações nesses locais de trabalho. Na passagem da ditadura para a democracia, diz, “as redações tinham uma efervescência de debate político extremamente salutar, de muito respeito”.
Os profissionais separavam suas convicções do trabalho jornalístico. Em certa medida, o “reportariado” pressionava as chefias em determinadas coberturas, buscando certo equilíbrio. Sem nunca perder de vista que as empresas de comunicação tinham (e têm) donos, com interesses próprios.
Atual colunista do diário conservador paulistano Folha de S.Paulo, Serra dá o exemplo da cobertura durante o escândalo de corrupção no governo Fernando Collor e seu tesoureiro Paulo César (PC) Farias, no início dos anos 1990.
— A investigação e o próprio impeachment foi todo abastecido por material produzido pela imprensa. A imprensa produziu sua investigação, com total independência dos órgãos públicos. Na Lava Jato, os jornalistas foram comer na mão dos procuradores e se sujeitaram aos objetivos políticos desses procuradores. Foram usados. Todo o timing dos vazamentos, isso tudo feito com parceria da imprensa — encerra.