Para o ator Kevin Kline, o compositor Cole Porter oferecia uma combinação irresistível: música imortal composta por um gênio com um lado obscuro. Kline passou nove meses treinando suas habilidades no piano e tendo aulas com um professor de canto para atuar como o maestro da era do jazz no filme “De-Lovely”, cuja première ocorreu no Festival de Cannes.
– O que me atraiu foi a história do homem por trás da música. É sempre ótimo explorar as imperfeições de um gênio . Eu sou fascinado pela música dele. Ela tem um tipo de efeito físico direto em mim”, afirmou Kline, que tentou ser pianista e compositor antes de embarcar na carreira de ator. As vicissitudes de qualquer carreira artística e criativa sempre me interessaram. Ele tinha uma combinação única de auto-indulgência, hedonismo e um apetite voraz para os prazeres epicuristas, carnal, gastronômico e alcoólico – disse o ator em um almoço para divulgar o filme.
Porter – que nunca tornou pública sua opção sexual, mas também nunca a escondeu – foi casado por quase 40 anos com sua musa Linda, porém também era um gay promíscuo.
Assim como Kline, o diretor do filme, Irwin Winkler, ficou intrigado pelas contradições do artista.
– Eis um homem que foi casado por 38 anos, mas um homem que também foi gay em uma época em que isso era considerado um grande tabu. A relação entre Cole e Linda era um tanto única, para dizer o mínimo – afirmou Winkler.
Kline ressalta sua fascinação pela música de Porter, que adquiriu um toque moderno com interpretações de uma série de artistas atuais, entre eles Alanis Morissette, Sheryl Crow, Elvis Costello e Robbie Williams.
Ele acredita que a música de Porter durará, “pela mesma razão e em sua maneira própria, o mesmo tanto que a música de Beethoven tem durado”. “A música tem o poder de encantar, para mim a música é mágica. O melhor sobre a música é que você simplesmente não pode explicá-la. Ela apenas funciona”, afirmou Kline.
E o que Porter teria achado do filme?
Kline acredita que Porter teria aprovado “contanto que fosse entretenimento. Provavelmente, ele teria dito que poderia ter sido mais engraçado ou que poderia haver mais canções ou dito para colocar tal música em tal tom…”
E Kline conclui que, sob o exterior urbano e sofisticado, havia um perfeccionista. Ele lembra quando Porter foi ver certa vez Frank Sinatra cantar em um clube de Nova Jersey.
– Sinatra o apresentou e disse estar honrado por sua presença. Sinatra cantou uma de suas canções, errou a letra e Porter saiu do local. Ele era muito exigente com os seus cantores.