A violência fez um estabelecimento centenário fechar as portas. E, desta vez, não foi mais um fechamento temporário, por ordem do tráfico, como a população vem assistindo acontecer com freqüência na cidade.
Nos últimos 12 meses, a Leiteria Silvestre, instalada no Centro do Rio de Janeiro há 100 anos, perdeu 50% de sua fiel clientela e também a esperança de voltar a tempos mais tranqüilos. Gerente do restaurante, Armando Jorge, que se considera “praticamente
um fundador da casa”, conta que os assaltos constantes aos clientes que deixavam o estabelecimento, no número 115 da Rua São José, fizeram o movimento cair de forma insustentável.
A guerra entre prefeitura e ambulantes também contribuiu para o fim do restaurante, que sexta-feira terá seu último dia de funcionamento. Na noite de quinta, a 100 metros dali, no Buraco do Lume, um novo conflito entre camelôs e guardas municipais reafirmou o temor dos donos do restaurante, que cederão o espaço a uma agência bancária.
A notícia do fechamento se espalhou no dia seguinte ao arrombamento de outro restaurante tradicional, o Petisco da Vila, em Vila Isabel – a segunda invasão de assaltantes em um mês. Ao saber do fato, o secretário de Segurança, Anthony Garotinho, ligou pessoalmente aos donos do restaurante – que haviam ameaçado fechar o comércio – para tranqüilizá-los. Logo depois, telefonou para a 20ª DP (Vila Isabel), dizendo que queria o “caso resolvido”. À noite, a polícia prendeu o receptador dos cheques roubados.
Também no caso da Leiteria Silvestre, o gerente garante: a concorrência com outros restaurantes, lanchonetes e redes de fast-food, que se multiplicaram ao longo dos anos, não é pior do que o medo da ação de criminosos.
– O ponto está difícil por causa da violência. Muito freguês que era assaltado na porta da loja foi desaparecendo. Também já fechei muito a porta por causa de brigas entre a guarda e os camelôs. Com esse corre-corre, essa bagunça, o movimento caiu pela metade – conta Armando, um português de 65 anos.
Morador de Copacabana, ele lembra que chegou a trabalhar na Leiteria Silvestre quando ela ainda ficava no Largo da Carioca, onde permaneceu até 42 anos atrás. Os 13 funcionários do restaurante terão de buscar emprego em outras freguesias.