Líder do MST afirma que ocupações vão continuar

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Publicado terça-feira, 15 de abril de 2003 as 10:47, por: CdB

“Enquanto existir latifúndio improdutivo, vamos continuar ocupando terras”. A declaração é de João Pedro Stédile, presidente nacional do Movimento Sem Terra (MST), que fez um discurso na tarde desta segunda-feira para cerca de 400 líderes de assentamentos e acampamentos sem-terra de toda a Bahia. Os representantes do movimento chegaram nesta segunda ao pátio da Pró-Reitoria de Extensão da Uneb, no Imbuí, onde permanecem acampados até quinta-feira, Dia Internacional de Luta pela Reforma Agrária, data que marca o massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996.

Stédile ressaltou que, embora o “inimigo” não seja o governo Lula, na visão dele empenhado em promover a reforma agrária, o MST não abandonará as práticas de ocupação, marcha e caminhada, como sempre fez. Inimigos seriam os latifundiários no meio rural e as elites dominantes nas grandes cidades. “Nós queremos, em primeiro lugar, que o governo acelere o processo de desapropriação de terras. Não é só porque o governo está do nosso lado que nós vamos mudar a nossa ação. Nós somos um movimento social e, como tal, lutamos pela nossa causa e não estamos vinculados ao governo”, continuou o líder.

Os sem-terra vão participar, durante a semana, de audiências com secretários estaduais e autoridades do Incra, além de discutir assuntos de interesse do movimento, como a questão da liberação dos alimentos transgênicos no país. A agenda ainda não está totalmente fechada, mas o MST também pretende realizar um ato ecumênico no dia 17, para o qual está sendo pleiteada a presença do arcebispo primaz do Brasil, o cardeal dom Geraldo Majella.

Durante todo a terça-feira, as lideranças do MST têm encontro marcado nas secretarias estaduais do Trabalho, Agricultura e Saúde. Para amanhã, eles conversam com Anacy Paim, secretária da Educação, e pretendem ainda falar com o padre Clodoveo Piazza, secretário de Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais. “Junto ao governo do estado, nossas principais reivindicações são a construção de escolas nos assentamentos, uma maior atenção à saúde e a criação de áreas de lazer, como quadras de esportes”, revelou Walmir Assunção, coordenador do MST na Bahia.

Em busca do atendimento de suas reivindicações, o MST vai continuar ocupando terras e promovendo caminhadas e passeatas. Walmir Assunção revigorou a idéia de que o movimento não é inimigo do governo Lula, mas as organizações populares, por sua vez, não podem morrer e devem continuar lutando. A Bahia contabiliza oito mil famílias assentadas – já com terra concedida pelo governo federal – e 15.444 famílias acampadas, ainda à espera de um pedaço de chão.

A passagem das lideranças do MST por Salvador vai lembrar os sete anos do episódio de Eldorado dos Carajás, massacre que guarda um saldo de 19 trabalhadores sem terra mortos em 17 de abril de 1996. “Vamos lembrar desses nossos companheiros e lamentar a absolvição de 148 policiais envolvidos”, disse Walmir Assunção. O coordenador do movimento na Bahia faz coro à pauta de reivindicações do MST nacional, que inclui a liberação de um crédito emergencial para a produção de alimentos nos assentamentos e uma maior atenção à educação, saúde e capacitação dos assentados. “Capacitar nossos membros é de fundamental importância para que os assentamentos influenciem positivamente na comunidade”, completou Assunção.