Líderes mundiais exploram a partir desta quarta-feira formas de revitalizar a Organização das Nações Unidas (ONU), mas suas propostas ficam aquém do que pensava o secretário-geral Kofi Annan para combater a pobreza, a discriminação e a guerra.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega norte-americano George W. Bush estão entre os 150 reis, presidentes e primeiros-ministros que devem discursar na sessão que marca o 60o. aniversário da ONU, entidade abalada por escândalos de corrupção e por divisões entre seus membros.
A cúpula termina na sexta-feira, com um documento sobre as crises mundiais e o futuro da ONU.
Em um relatório de 85 páginas divulgado em março, chamado “Em Maior Liberdade”, Annan citava os desafios do século 21 que exigem uma ação coletiva: pobreza extrema, epidemia de Aids, segurança global, terrorismo e direitos humanos.
Mas, após acirradas discussões nas últimas semanas, praticamente todas as iniciativas mais incisivas sofreram revezes no documento final de 38 páginas aprovado na terça-feira pela Assembléia Geral, a fim de ser referendado pela cúpula.
– Obviamente, não conseguimos tudo o que queríamos, e com 191 países-membros não é fácil ter um acordo. Todos nós queríamos mais, mas podemos trabalhar juntos com o que recebemos, e acho que é um importante passo à frente – disse Annan.
Mesmo esvaziado, esse documento salva a cúpula do fracasso. Autoridades da ONU destacam algumas iniciativas, como o estabelecimento de um novo órgão de direitos humanos, a criação de uma Comissão de Construção de Paz, que ajudará nações que saem de conflitos, e, talvez o mais importante, a obrigação de intervir para salvar civis de genocídios e crimes de guerra.
Mark Malloch Brown, chefe de gabinete de Annan, disse que a aguardada cúpula vai incentivar o Grupo dos Oito (países industrializados) a prometer 50 bilhões de dólares em ajuda a países pobres. Além disso, a União Européia (UE) se compromete a gastar 0,7 por cento do produto bruto de seus países-membros em ajuda internacional até 2015.
Mas não houve acordo sobre a proliferação nuclear ou a definição de terrorismo, como queriam países ocidentais, e o texto fica aquém dos compromissos com uma maior ajuda e com o fim das barreiras comerciais, como esperavam nações em desenvolvimento.
– O grande item que falta é a não-proliferação e o desarmamento. Isso é uma verdadeira desgraça – disse Annan.
Os Estados Unidos eram contra menções ao desarmamento e queriam mais ênfase no perigo de que armas nucleares e de outros artefatos não-convencionais caiam em mãos de “Estados párias” ou terroristas.
Grupos de defesa dos direitos humanos, combate à pobreza e outras causas se disseram frustrados. Nicola Reindorp, da Oxfam em Nova York, disse em nota que “queríamos uma agenda arrojada para lidar com a pobreza, mas ao invés disso temos uma brochura mostrando compromissos passados”.
Segundo Nancy Soderberg, do centro de estudos International Crisis Group, os países em desenvolvimento ficaram parados na década de 1960, enquanto os Estados Unidos combatem seus próprios “dramas ideológicos” a respeito de alterações climáticas, desarmamento e ajuda internacional.
Entre os eventos paralelos de quarta-feira está uma reunião especial do Conselho de Segurança, que deve adotar uma resolução britânica cobrando dos governos nacionais leis contra extremistas que incentivam o terrorismo.
Entre os presidentes que participam da cúpula estão Hu Jintao (China), Vladimir Putin (Rússia), Pervez Musharraf (Paquistão), Hugo Chávez (Venezuela), Mahmoud Ahmadinejad (Irã) e Thabo Mbeki (África do Sul). Vêm também, entre outros, os primeiros-ministros Junichiro Koizumi (Japão), Dominique de Villepin (França), Tony Blair (Grã-Bretanha) e Ariel Sharon (Israel).
Para muitos nova-iorquinos, a cúpula tornará infernal o trânsito em Manhattan. As ruas ficarão fechadas, e colunas de blindados