Vivemos um momento ímpar da história humana: o quebra-cabeça evolutivo da humanidade está sendo montado diante de nossos olhos mostrando-nos nossos antepassados.
Em 30 de novembro de 1974, no sítio de Hadar, na Etiópia, foram descobertas centenas de fragmentos de ossos, aproximadamente 40% do esqueleto de um hominídeo. Na mesma noite, durante as comemorações pela grande descoberta, tocaram tanto “Lucy in the Sky With Diamonds” dos Beatles que acabaram por batizar o esqueleto de Lucy.
O termo hominídeo é aplicado a toda a família zoológica Hominidae, que inclui as espécies Australopithecus e Homo. Assim, não é conveniente definir certas figuras que andam e falam por nossa cidade como australopiteco. Embora estas espécies sejam diferentes de muitos modos, os hominídeos dividem um conjunto de características que os definem como grupo. A principal característica é a locomoção sobre os dois pés.
Lucy logo foi tida como ereta devido à descoberta, em 1978, na Tanzânia, de pegadas de dois hominídeos. Que descoberta! O vulcão encheu o chão de cinzas, os dois hominídeos caminharam por cima e, logo depois, o vulcão cobriu as pegadas com mais cinzas, preservando-as para nós.
A análise dos ossos de Lucy também mostrou que ela era bípede. O formato do seu fêmur apresenta vários traços disso. Bem como joelhos, pélvis, tornozelos e espinha. Também concluíram que era fêmea. Foi classificada como sendo australopithecus afarensis.
Agora, na África do Sul, em cavernas perto de Johanesburgo foi descoberto o Australopithecus Sterkfontain, de três milhões de anos. Com traços semelhantes aos macacos, este é mais um hominídeo a ocupar lugar na árvore genealógica humana. Apesar de ainda não sabermos se é um antepassado ou um “primo”, porém é uma importante descoberta.
Toda essa história começou em 1925, em Taung, África do Sul, quando foi descoberto o crânio de uma criança autralopiteca, de três milhões de anos. De lá para cá, diversas descobertas vêm montando a complexa árvore evolucionária humana.
Outro cientista, Fred Spor, acredita que além de pés apropriados (pequenos e sem cauda para ajudar), ficamos sobre os pés graças ao órgão de equilíbrio dentro do ouvido interno. Fred realizou uma tomografia em um crânio australopiteco e descobriu que o órgão responsável pelo equilíbrio é semelhante ao dos macacos. Isso sugere que nossos ancestrais passavam a maior parte do dia nas árvores.
Ron Clark, em agosto de 1985, examinado uma caixa de ossos, descobriu alguns ossos semelhante a humanos. Eram ossos de um pé, tão velhos quanto Lucy. Porém, ao contrário do dedão rígido dos humanos, o pé eram semelhante ao dos macacos, que o permitia agarrar-se em árvores.
Acredita-se que uma mudança do clima obrigou nossos ancestrais a descer das árvores e a andar para competir com os terríveis predadores. Mas, Phillip Tobias têm descoberto nas cavernas de Sterkfontain, Africa do Sul, ossos que mostram que os hominídeos eram caçados por predadores. É uma descoberta que obrigará a rever nossas crenças, nossos ancestrais não eram tão fortes e organizados como imaginávamos.
Descobertas de fósseis de plantas vêm reforçar essa tese. Sugerem que a mudança de floresta para savana foi lenta e gradual, ou seja as árvores foram se distanciando ao longo do tempo. E os hominídeos que passavam menos tempo no chão, correndo de uma árvore para outra em busca de alimento, tinham mais chances de sobreviver. E deixar descendentes… Nós!
Lentamente a longa “história” da humanidade vai sendo reconstituída, mostrando-nos quem somos e os caminhos evolutivos que a natureza tomou para nos criar. É um choque para os que acreditam que Deus criou todos os seres de uma vez, para esses cabe lembrar o que disse Thomas Henry Huxley: “meu negócio é ensinar minhas aspirações a se conformarem aos fatos e não tentar fazer os fatos se harmonizarem com minhas aspirações”.
Mário Eugênio Saturno