Líder do PT, Lula faz declaração pública na qual repudia a entrevista coletiva dos promotores que o acusam
Por Redação – de São Paulo
Lula fez declaração à imprensa, nesta quinta-feira, na qual rebateu as acusações dirigidas a ele na apresentação dos promotores que integram a força-tarefa da Operação Lava Jato, liderada por um juiz de primeira instância do Paraná, Sergio Moro. O primeiro a usar da palavra foi Rui Falcão, presidente do PT: “O objetivo é retirar da cena política o principal líder do povo brasileiro”. Falcão denunciou um regime de exceção no Brasil e divulgou nota aprovada na Executiva do partido, que repudiou o “grotesco espetáculo midiático” do MP, apontou “parcialidade” do procurador Deltan Dallagnol e lembrou que ele fez denúncias “confessadamente sem provas”.
A falta de provas contra o líder petista repercutiram mundo afora. Na véspera, os promotores que apresentaram denúncia contra o ex-presidente Lula cometeram uma “litania” de acusações, mas foram econômicos ao apresentar as provas – o que pode colocar em xeque o futuro da Operação Lava Jato, segundo o diário norte-americano Chicago Tribune, em referência à entrevista coletiva do Ministério Público Federal do Paraná transmitida ao vivo pela TV, na quarta-feira.
O jornal repercute, assim como os principais jornais estrangeiros, as acusações levantadas contra o ex-presidente. Mas se as denúncias já eram esperadas, a linguagem utilizada pelos promotores foi “impressionante”, descreveu o jornal. Os promotores classificaram o petista como “comandante máximo”, “maestro”, “grande general” do megaesquema de corrupção que envolve a Petrobras e distribuição de cargos públicos, classificada pela promotoria com o neologismo “propinocracia” ou “um governo regido pela propina”.
Para o Chicago Tribune, “o ‘fosse’ escancarado entre as acusações verbais e as denúncias (formais) levantaram questões sobre o futuro da investigação”. Se, por um lado, as “acusações drásticas” podem ajudar os promotores a manter o caso em sua jurisdição, por outro, implicam “riscos” de que a investigação seja vista como politizada.
Dallagnol, membro da Igreja batista do Bacacheri, em Curitiba, desde a infância, coloca como prioridades na vida ser um “seguidor de Jesus, marido e pai apaixonado, procurador da República por vocação e mestre em Direito por Harvard, teve seus “15 minutos de fama”, como previu o artista norte-americano Andy Warhol na década de 70 do século passado, ofuscados pela reação que se seguiu, após a coletiva de imprensa.
— Eles tinham um helicóptero com 400 quilos de cocaína, mas não tinham a convicção — disse Lula, em tom de brincadeira, mas visivelmente emocionado.
Na tentativa de manter o bom humor sobre o fato que, de fato, constrange o ex-presidente, o site de humor Sensacionalista publicou que, “a notícia mais aguardada da história da humanidade foi publicada há pouco no website da Agência Espacial Americana. Após décadas de pesquisa e trilhões de dólares em pesquisa, enfim podemos dizer que não estamos sozinhos no Universo”.
“Não há nenhuma evidência científica ou prova de contato com qualquer tipo de vida fora da Terra, mas os cientistas declararam: ‘não temos como provar, mas temos convicção’. E isso foi o suficiente para anunciar o maior feito científico de todos os tempos. Um grupo de arqueólogos já agendou uma entrevista coletiva para amanhã. Especula-se que será anunciada a descoberta do tão procurado ‘elo perdido’ entre o homem e o macaco. Não temos como provar, mas temos convicção”.
A mesma publicação enumerou 15 situações, a saber, nas quais, embora não tenham como provar, sobram convicções sobre o teor de verdade nas afirmativas:
1. Se deixar o chinelo virado a mãe morre
2. Apertar o botão do elevador várias vezes seguidas faz ele chegar mais rápido
3. A CIA está roubando nossos dados via Pokemon Go
4. Refrigerante em garrafa de vidro é melhor do que em garrafa pet
5. Fofão é o demônio
6. Temer é satanista
7. Marina Ruy Barbosa é toda ruiva
8. O Biscoito Globo é da TV Globo
9. Bonner deixou Fátima por causa da Maju
10. Colocar garrafa pet cheia da água em cima do registro de luz faz a conta ficar mais barata
11. Zulu vazou o próprio nude
12. Celular no modo avião não mostra para os outros que você leu as mensagens
13. Glória Maria tem 60 anos há 10 anos
14. Algodão na testa faz passar o soluço do bebê
15. Botar a pilha no congelador faz ela recarregar
Show midiático
As denúncias de Dallagnol e seus liderados, no Paraná, respondidas por Lula nesta quinta-feira, em março deste ano já embasavam outra ação amparada por Moro, na tentativa de sequestro do ex-presidente Lula, que chegou a ser conduzido até um aeroporto paulista, de onde seria levado a Curitiba. O ato foi impedido por ordem do Comando da Aeronáutica.
— Não devo e não temo. Parece que o que mais vale é o show midiático. Há um complô midiático. Eu podia estar aposentado, mas acenderam em mim a chama de que a luta continua — disse a maior liderança política do nosso país.
Assista ao vídeo em que Lula fala sobre o ocorrido:
Repercussão no Brasil
Nesta quinta-feira, em artigo publicado em sites de opinião, o ex-coordenador do V Fórum Social Mundial, Jeferson Miola, considerou “aterrador o ataque dos procuradores-inquisidores ao ex-presidente Lula. Os acusadores fabricam acusações, mas cometem o erro crucial: não apresentam uma única prova contra Lula, só empregam uma verborragia histérica e ideológica contra ele”, afirmou.
“Até Reinaldo Azevedo reconhece: ‘Eles cometeram um erro primário. Nem um infiltrado de Lula na Força Tarefa seria capaz de idéia tão brilhante para colaborar com Lula’. A fabulação dos pregadores do Ministério Público traz em si um questionamento: como pode alguém remunerado nababescamente pelo povo formular delírios que, apesar de mirabolantes, ainda assim agendam o noticiário dominante? A resposta é simples: este é um tempo de cólera fascista, um tempo de brutal ataque à democracia”, acrescentou.
Para Miola, “os inquisidores abasteceram a bandeja de uma mídia fascista com o condimento ideal para a disseminação do ódio e da intolerância contra Lula e o PT. A estratégia de estigmatização para extirpar Lula e o PT entrou na sua etapa derradeira.
Esta estratégia ficou desnuda. Depois de completarem a farsa do impeachment para o golpe contra Dilma, era preciso encerrar a Lava Jato para preservar os donos do poder que tomaram de assalto o Palácio do Planalto com Michel Temer, Cunha, Jucá, Padilha e Aécio”.
“Se os democratas do Brasil se amedrontarem diante desta brutal ofensiva dos fascistas do MP, da PF e do Judiciário, não estarão somente legitimando o assassinato do Estado de Direito, mas estarão silenciando ante o esmagamento da esquerda e do campo democrático e popular. É imperativo, por isso, uma vigorosa contra-ofensiva a este fascismo jurídico e midiático. Na falta de substância para a acusação, os pregadores fanáticos abusaram do uso de uma retórica adjetiva. Os inquisidores defendem que a propina na Petrobras – que foi aperfeiçoada no governo do FHC e continuou beneficiando o PMDB, PP, PTB, DEM, PSDB durante os governos petistas por conta de um sistema político podre – foi de R$ 6,2 bilhões”, disse, no artigo.
Perseguição a Lula
Para Falcão, o objetivo dos acusadores é interditar Lula:
— Este processo não tem provas, em função de delações e acontece com objetivo claro, que nós declaramos desde o início, trata-se de tentar interditar o presidente Lula, que não cometeu nenhum crime, não se beneficiou de nada em sua trajetória, não se beneficiou em nada, não é proprietário de apartamento, não é proprietário de sítio. Insiste-se em atribuir a ele este tipo de ilegalidade — disse, nesta manhã.
Segundo o presidente do PT, o ex-presidente não recebeu nenhum comunicado oficial, mas soube por meio de jornais sobre a possibilidade de ser denunciado.
— Se houver um mínimo de Justiça, esta denúncia não deveria ser acatada. Está mais que comprovado que o presidente Lula não é proprietário de apartamento, nunca se beneficiou ilegalmente de nada usando seu cargo — argumentou Falcão.
Ainda nesta manhã, em vídeo postado nas redes sociais, o deputado Wadih Damous (PT-RJ) disse que seu primeiro impulso, após a denúncia contra o ex-presidente Lula, foi tratar o caso como uma palhaçada.
— Ainda vem que não o fiz, os palhaços merecem respeito e nos alegram. O que aconteceu ontem foi um atentado fascista à democracia brasileira — concluiu.
Assista ao vídeo: