De forma genérica, Lula classificou os acordos com a mídia conservadora como “almoços e jantares”. A prática, no entanto, não deu certo.
Por Redação – de São Paulo
Presidente da República por dois mandatos, após eleger a sucessora, Dilma Rousseff, derrubada em um golpe de Estado patrocinado pela mídia conservadora, o líder petista Luiz Inácio Lula da Silva tentou explicar, em entrevista ao site Nocaute, do jornalista e escritor Fernando Morais, porque destinou — ao longo de mais de uma década — cerca de R$ 15 bilhões em publicidade e promoções junto à mídia conservadora. Para as Organizações Globo, que apoiaram a cassação da presidenta, foram cerca de R$ 6 bilhões.
De forma genérica, Lula classificou os acordos com as TVs, rádios e jornais conservadores como “almoços e jantares”. A prática, no entanto, não deu certo.
Segundo Lula, a questão da democratização dos meios de comunicação “é um tema sempre muito delicado”.
— Toda vez que você fala da imprensa aparece alguém e fala assim para você: “mas presidente, o senhor precisa conversar mais com a imprensa. Por que não chama a Globo para tomar um café ou para jantar? Por que não chama a Veja para um almoço, para jantar?”. Sabe? Eu acho que eu engordei de tanto conversar com eles. E não resolve. É uma questão ideológica — disse.
Sem censura
Ainda de acordo com o líder petista, sua intenção não é censurar os meios de comunicação.
— Não quero censurar nada porque eu sou contra a censura. Quem tem que censurar a rádio é o ouvinte. Quem tem que censurar a televisão é o telespectador. Quem tem que censurar os jornais, sabe, é o leitor. E quem tem que censurar a internet é o internauta. Ou seja, o que nós queremos é garantir a democratização. Que as pessoas também possam ter acesso aos meios de comunicação. Que a gente possa garantir o direito de resposta decentemente. Que a gente possa fazer com que as universidades tenham televisão. Que o sindicato tenha televisão. E que a gente possa efetivamente democratizar — acrescentou.
O líder da centro-esquerda ressalta que não concorda com a gestão dos países comunistas na área da Comunicação. Prefere o modelo capitalista.
— Eu não quero uma televisão como a de Cuba. Eu não quero uma televisão como a da China. Não quero uma regulação como a chinesa. Eu quero uma regulação que pode ser igual à inglesa, igual à alemã, igual a dos Estados Unidos. O que eu quero é que esse país tenha mais gente podendo ter acesso a ter um canal de televisão, e não ficar subordinado a nove famílias que detêm isso há meio século. É isso que eu quero fazer — explica.
‘Não mintam’
Se havia alguma esperança para democratizar a mídia, em seus dois mandatos, no de sua sucessora isso foi enterrado. De fato, com Dilma os jornais independentes foram bloqueados na Secretaria de Comunicação. Durante o período em que lá permaneceu a secretária Helena Chagas, houve a perseguição à mídia progressista; enquanto a Globo recebeu a maior parte dos recursos aplicados no setor.
— Nós tínhamos um projeto que era para dar entrada quando a Dilma tomou posse. Eu acho que ela também foi induzida, como eu, a que uma conversinha a mais resolve. Um café a mais resolve, um jantar a mais resolve. Não resolve — admitiu.
Segundo Lula, agora, se voltar a governar o Brasil, será “preciso fazer com que a sociedade discuta essa condição dos meios de comunicação. Porque um país deste tamanho tem que ter informações corretas”.
— Se o dono de um jornal, um canal de televisão, um rádio quiser ter um pensamento políticos ele tem direito de ter um editorial de dez minutos, do tempo que ele quiser para falar o que pensa. Agora, quando for informação, quando for fato, nós queremos que ele seja verdadeiro, que não minta. É só isso. Não mintam. Não digam inverdades como eles costumam dizer todo santo dia — concluiu.