Lula, o mito-presidente

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Publicado Terça, 29 de Outubro de 2002 às 16:29, por: CdB

O primeiro discurso oficial de Luiz Inácio Lula da Silva, na iminência da fundação do Partido dos Trabalhadores, expressou o que a estrela símbolo da causa ainda simboliza na sigla: "O PT não é uma proposta no vazio (...) O PT nada mais é do que P de pão e T de trabalho", disse Lula em discurso para 300 metalúrgicos, na noite do dia 02 de dezembro de 1979, no lançamento do primeiro núcleo municipal em São Bernardo do Campo, berço do partido e do agora presidente eleito. A fundação viria dois meses depois, e o discurso - embora desprovido de eloqüência e com a marca do radicalismo - conseguia mobilizar a massa que caracterizou o PT. Lula elucidava: "Nós trabalhadores - e quando digo trabalhadores faço questão de ressaltar que não são apenas trabalhadores de macacão e sim todos aqueles que são explorados pelo poder econômico - daremos a este país uma demonstração de como se constrói uma sociedade justa". Os primeiros alvos petistas foram a burguesia, a exploração no trabalho (o que fazia Lula se empenhar pelas greves que o consagraram) e o regime ditatorial. Políticos que compunham o poder, nos planos nacional e estadual, completavam a lista. O aliado de hoje Leonel Brizola, apesar de símbolo da resistência, é um dos muitos exemplos: "Quem voltou ao Brasil depois de conchavo com a social democracia foi ele, não fui eu", rebateu Lula, durante um comício na Bahia em 1979, em resposta às declarações de Brizola que, na época, o classificou de "um social democrata". O partido nasceu com a ideologia de combate aos "poderosos", e por isso fazia pouco quando o assunto era possíveis alianças. O PT, em seu início, não era aberto a coligações e rebatia alianças que, a julgar pelos militantes trabalhadores, eram contra a nação. "O partido não pretende chegar ao poder, pelo menos enquanto perdurar a atual correlação de forças" diz um manifesto lançado na fundação do partido. A nota foi atribuída a militantes mais exaltados. Mas o próprio Lula delcarou"O PT não fará pacto com ninguém, nem com o PTB de Brizola nem com o PCB de Prestes". O manifesto oficial - o primeiro - rechaçava "todos os mecanismos ditatoriais que reprimem a sociedade" e lançava a cartilha do PT: a luta pela democracia pluripartidária, pela igualdade econômica e social, por partidos independentes do Estado, por um Judiciário independente e por um parlamento livre". Se por um lado o PT se mostrava uma sigla isolada nas negociações políticas, por outro o partido seu um passo importante na consolidação de sua estrela. Foi nesta época que Luiz Inácio, investido de sua figura como já consagrado operário-político, iniciou sua busca por adesões artísticas ao partido, dando mostras de que a classe também se enquadrava nas diretrizes do movimento, e não somente os homens de macacão. "Queremos que cada artista, dentro de suas possibilidades, ajude o PT". A idéia da solidão política do Partido dos Trabalhadores durou pouco. Em 81, às vésperas das eleições, o diretório nacional aprovou coligações com outras agremiações de oposições, com a complacência do próprio Lula. Foi o primeiro ponto a cair na pauta do partido que, para muitos de seus militantes, deveria por si só disputar cargos políticos; e a primeira mudança sutil no discurso. No alto de seus quatro anos de existência - já com a contribuição de intelectuais, entre eles sociólogos e economistas - o partido não fugia de seu caráter esquerdista. Quando então candidato ao governo de São Paulo, Lula já traçava planos para o nível nacional. Entrou no discurso do PT a "renegociação da dívida externa brasileira, a implantação do salário- desemprego, uma política de redistribuição de renda e a reforma fiscal". Em 1985 Luiz Inácio viveu um dilema com a morte de Tancredo Neves. A tão criticada ditadura sucumbia com a subida na rampa do Palácio do Planalto do vice- presidente José Sarney, que tomaria posse, mas que representava para o PT, ainda, as forças da burguesia. Com o receio da volta dos tão combatidos militares, Lula di

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