Publicado Sexta, 13 de Agosto de 2021 às 15:23, por: CdB
"Eu acho que o PT deve ter cometido muitos erros e eu devo ter cometido muitos erros também. E nós vamos ser avaliados pelas pessoas. A gente não pode jogar a culpa no eleitor, temos que ver onde nós erramos", afirmou o ex-presidente Lula, em entrevista nesta sexta-feira.
Por Redação - de São Paulo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez, na manhã desta sexta-feira, a primeira autocrítica ao PT desde que foi libertado da prisão, em 2019. O líder popular analisava o avanço do bolsonarismo em alguns Estados brasileiros em entrevista a uma rádio de Santa Catarina, Estado com amplo domínio eleitoral do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Lula foi condenado e preso no âmbito de uma sentença do agora ex-juiz Sérgio Moro
— Você pode dizer que tem um antipetismo em Santa Catarina, o que não é verdade. O PT pode estar colhendo em Santa Catarina os resultados dos erros que o PT cometeu. E nós temos que saber quais foram os erros que cometemos — afirmou Lula.
E acrescentou:
— Eu acho que o PT deve ter cometido muitos erros e eu devo ter cometido muitos erros também. E nós vamos ser avaliados pelas pessoas. A gente não pode jogar a culpa no eleitor, temos que ver onde nós erramos.
Discórdia
Lula explicou, em seguida, que essa autocrítica é o formato que o partido deve seguir para se preparar para as campanhas eleitorais em 2022.
— Como vamos entrar em uma outra disputa política, não custa nada a gente avaliar o que a gente fez de certo, o que a gente fez de errado, onde a gente pisou na bola e onde a gente não pisou, para que de fato a gente faça as coisas mais corretas possíveis em 2022 — disse.
O petista voltou a afirmar ainda não ser oficialmente um candidato, mas acredita que, por aparecer na frente em todas as pesquisas eleitorais, o PT confirmará sua candidatura contra a reeleição de Bolsonaro. Na entrevista, Lula fez também duras críticas ao atual presidente, a quem chamou de ‘mentiroso’ e ‘fascista’. Disse ainda ter certeza de que Bolsonaro perderá em 2022.
— Ele é um presidente que governa baseado na mentira. Ele não tem nenhuma preocupação com a verdade, você vê que ele não fala sobre nenhum assunto sério. O que ele fala todo dia é tentando procurar uma discórdia na sociedade. As pessoas não têm que ter medo da polarização porque a polarização que existe no Brasil hoje é um representante da democracia e a outra candidatura que representa o fascismo, a antidemocracia, um negacionista que nega absolutamente tudo. Essa vai ser uma polarização boa, o povo vai ter que escolher entre a democracia e o fascismo — destacou Lula.
Memorial
O ex-presidente explicou, ainda, que não acredita que o processo de impedimento irá caminhar na Câmara e atribui o fato à proximidade entre Bolsonaro e Arthur Lira (PP-AL), presidente da Casa. Na conversa, porém, reiterou que ele e o PT são favoráveis ao processo e que estão tomando todas as providências para que a ação siga adiante, no Parlamento.
— Agora, o que vai acontecer se for colocado em votação e ele não for interditado? Quem vai resolver o problema desse país é a eleição — pontuou.
Ainda na entrevista, Lula afirmou que a OperaçãoLava Jato foi uma ‘tentativa de destruir a (centro-)esquerda brasileira’, mas esse objetivo foi frustrado com a comprovação da sua inocência e da suspeição do ex-juiz Sérgio Moro. A declaração foi dada durante discurso do lançamento do ‘Memorial da Verdade’, publicação que busca refazer o caminho da guerra jurídica contra o petista.
— A tentativa de destruir a (centro-)esquerda brasileira não deu certo. Nós conseguimos sobreviver e saímos desse processo de destruição muito mais fortes — afirmou o presidente ao tratar da elaboração do livro que relata a trajetória da sua defesa.
Bravata
Os acusadores no seu processo, diz Lula, miravam a destruição das esquerdas porque estavam aliados a interesses de grandes grupos que buscavam garantir que políticas de inclusão social não avançassem no Brasil.
— Eles não querem que volte (as políticas de inclusão social). Eles estão muito preocupados em garantir o espaço fiscal para que os banqueiros continuem mamando numa vaca gorda chamada Brasil enquanto o povo está deitado na rua passando frio e fome — refletiu.
Para Lula, com a atuação contra ele e as esquerdas, a força-tarefa da Lava Jato acabou se transformando em uma ‘quadrilha’ comandada pelo ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro.
— Muita gente achava ruim quando eu falava que não trocaria a minha dignidade pela minha liberdade. Muita gente achava que era bravata, mas não era bravata, era o orgulho que eu tinha de provar que a força-tarefa de Curitiba tinha se transformado em uma quadrilha, que o Moro era o chefe dessa quadrilha e que essa quadrilha tinha um único objetivo político que era nos destruir e destruir o Lula — concluiu o ex-presidente.