O Iraque está à beira de desaparecer do mapa enquanto país, através da recuperação da partição do território segundo divisões sectárias e religiosas, um objetivo que corresponde à primeira fase da invasão conduzida pelos Estados Unidos em 2003.
De acordo com as informações mais recentes, o grupo terrorista sunita Exército Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) está a cerca de 20 quilômetros a sul de Bagdá, contando para isso com uma rendição quase total do exército deixado pelos Estados Unidos no Iraque e no qual, segundo foi anunciado, o Pentágono investiu dezenas de milhões de dólares.
O EIIL tem deixado para trás milhares de soldados e civis mortos, uma matança organizada e a frio, sobretudo, de xiitas e alauítas, através de fuzilamentos em massa seguidos de enterros em valas comuns. Em Bagdá vive-se um ambiente de pânico e terror, com a aproximação do grupo terrorista que, na Síria, tem recebido apoio dos Estados Unidos e aliados da Otan.
– As notícias que temos dão conta de um banho de sangue, uma orgia de violência sectária que marca a progressão do EIIL”, afirma Nour Eliot, jornalista libanesa de origem síria trabalhando em Beirute. “Há relatos assustadores de matanças às centenas, corpos decapitados e amontoados transportados em caminhões para valas comuns e cabeças das vítimas alinhadas ao longo das bermas das estradas – acrescentou.
– Barack Obama continua refletindo – afirma em Nova York o jurista pacifista George Lamarre, convicto de que “esta é uma estratégia para dar corpo à partilha do Iraque e iniciar também a da Síria, com auxílio do terrorismo islâmico”.
Segundo Lamarre, “na prática os Estados Unidos estão incentivando uma guerra civil em que apoiam e financiam todos os lados envolvidos e que terminará quando for estabelecida ‘a paz’ entre xiitas, sunitas e curdos. Teremos então”, acrescentou, “uma área xiita, uma área sunita, que poderá incluir parte da Síria para compensar a falta de recursos na zona iraquiana, e um Curdistão.”
Vários analistas europeus e norte-americanos coincidem na ideia de que o envolvimento de antigos comandantes do exército de Saddam Hussein ao lado dos fundamentalistas islâmicos sunitas revela o caráter sectário dos movimentos em curso. “A Al-Qaeda e Saddam Hussein sempre foram inimigos de morte, pelo que esta forma de colaboração só poderá ter como causa a existência de objetivos territoriais comuns da comunidade sunita, de longe a mais prejudicada desde 2003.
– O Iraque vive os últimos dias como país, a não ser que haja alguma reviravolta, não se sabe bem como – adverte Nour Eliot. “Um Iraque retalhado entre zonas influenciadas por Irã, Arábia Saudita e Turquia, sob a tutela dos Estados Unidos e de Israel, e susceptível de ser utilizado como uma nova e decisiva base estratégica contra a Síria”.
– Uma Síria – acrescenta Nour Eliot, “a que estes estrategistas reservam o mesmo destino que o Iraque, o desmantelamento segundo zonas sectárias e à custa de intermináveis banhos de sangue a que, por certo, o Líbano não escapará”.