O Museu de Arte Contemporânea (MAC) Ibirapuera vai apresentar, até outubro, a mostra <i>Hiroshima – Testemunhos e diálogos</i>, para recordar a tragédia causada pela bomba atômica.
Da imagem inicial de <i>Little Boy</i> – a bomba atômica que devastou Hiroshima vista como uma pequena forma a cair por um céu azulado matinal – a uma figura humana de costas, encolhida, frente a um mar de ruínas calcinadas, as 86 reproduções de desenhos videnciam um verdadeiro apocalipse.
Expostas no MAC atestam o horror inaugural da era atômica, que vitimou ao menos 237 mil pessoas – incluindo as vítimas de Nagasaki, nove dias depois do fatídico 6 de agosto de 1945 de Hiroshima.
Apesar de reproduzidas em papel fotográfico e em grandes plotagens – os originais não foram cedidos – a compilação de imagens e relatos, aberta ao público amanhã, incomoda. Talvez seja esse o efeito que a curadora Maria Luiza Tucci Carneiro, 55, pretenda.
– O desastre atômico ainda hoje é tabu, tanto no Japão como nos EUA. A memória de tal devastação é essencia -, diz ela, diretora-executiva do Laboratório de Estudos sobre a Intolerância da Universidade de São Paulo (USP). A diretora do MAC, Elza Ajzenberg, também assina a curadoria.
Os desenhos são do acervo do Museu Memorial da Paz de Hiroshima, que os obteve a partir de uma campanha via rádio em 1974, quando foi pedido que sobreviventes do desastre elaborassem as obras e as enviassem à emissora NHK.
A mostra foi montada quase na ordem cronológica dos acontecimentos. As imagens iniciais mostram aviões e a trajetória do artefato, com espectadores ainda sem saber o que viria. A partir da explosão, as cores predominantes mudam: o vermelho do fogo produzido e a chuva negra dos destroços invadem os desenhos.
O azul das afluentes do rio Ota e das cisternas saltam em uma série, mas são minimizadas pelas numerosas figuras humanas desfiguradas, inertes, com olhares atônitos ou tentando sobreviver em meio a colunas, vigas e estruturas destruídas. Há flashes mais esperançosos, como em <i>Soldado falando com crianças</i>, de Torazuchi Matsunaga, onde uma dupla de garotos saúda um soldado, mas o tom trágico é o mais presente na exposição.
É o que narra <i>Um homem e seu cavalo morrem juntos</i>, de Masahiko Nakata, um tríptico no qual são mostrados mortos o dono de um cavalo junto ao seu animal, perto de uma ponte, em três momentos, cada vez mais próximos do fim. E o desconforto dos moradores, portando máscaras, perto das valas comuns onde pilhas de cadáveres foram queimadas. Ou dos cidadãos tendo de identificar familiares e amigos e encontrarem mortos a perder de vista, cada um apenas com sua etiqueta portando um número.
De acordo com Carneiro, o fato de os desenhos só serem produzidos a partir da década de 70 mostra o quanto o assunto ainda perturba a sociedade japonesa.
– Ocorreu uma minimização da catástrofe. Feitos quase 30 anos depois do fato, são outro tipo de memória. Imagino o que vai acontecer quando os sobreviventes restantes morrerem. Daí a importância do registro.
<b>Diálogos</b>
Os desenhos-testemunhos dialogam com 14 obras pertencentes ao acervo do MAC, que evocam temas como a dor. Entre elas, <i>Impresso sobre rocha</i> (1973), instalação do japonês Chihiro Shimotani, <i>Discussão</i>, do britânico Austin Wright, além de duas esculturas da nipo-brasileira Kimi Nii.
Hiroshima – Testemunhos e Diálogos
Quando: Ter. a dom., das 10h às 19h. Até 9/10
Onde: MAC Ibirapuera (pavilhão Ciccillo Matarazzo, 3º piso, parque Ibirapuera, portão 3; tel. 0/xx/11/5573-9932
Quanto: entrada franca