O ministro da Fazenda, Pedro Malan, usou o crescimento nas pesquisas do candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, para tranqüilizar investidores britânicos, em uma palestra nesta terça-feira, na sede do Banco da Inglaterra, a cerca de 70 analistas e administradores de fundos com recursos no Brasil. Malan, que sempre teve diferenças com Serra quando o ex-ministro estava no governo, citou o candidato três vezes, espontaneamente, dizendo inclusive que ele era o mais preparado para a Presidência. "Serra, em segundo (nas pesquisas), deve ir ao segundo turno, é claro", disse o ministro aos investidores. "Nós gostaríamos que ele ganhasse", afirmou. O ministro garantiu aos investidores, no entanto, que todos os outros candidatos já se comprometeram com a manutenção geral dos termos do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Sem mudança "O Serra é o mais preparado, mas não concordo que vá ocorrer uma grande mudança caso a oposição ganhe", afirmou o ministro. Malan disse ainda que Lula "tem mostrado responsabilidade" nas declarações que vem dado à imprensa sobre o que faria se fosse eleito. O ministro levou - e citou várias vezes na sua palestra - um apanhado das declarações dadas pelos candidatos depois do encontro que tiveram com o presidente Fernando Henrique Cardoso para discutir o acordo com o FMI. Pedro Malan se encontrou também com o presidente do Banco da Inglaterra, sir Edward George, e com diretores de três grandes bancos britânicos - HSBC, LLoyds e Standard Chartered. "Eles confimaram, como já tinham dito na reunião em Nova York, que vão manter o nível de negócios no Brasil, inclusive de crédito", afirmou. O ministro disse que o financiamento para exportações brasileiras, que tinha caído muito nos últimos meses, está voltando a se recuperar. Malan também teve um encontro com o ministro britânico das Finanças, Gordon Brown, e participou de um almoço, na residência do embaixador Celso Amorim, com representantes de empresas britânicas com interesses no Brasil. O ministro viajou ainda nesta terça-feira para Paris, onde na quarta-feira se reúne com representantes do governo, Banco Central e investidores franceses. Sem reestruturação O ministro mostrou dados sobre a economia brasileira - os mesmos que já tinha apresentado a investidores em Nova York, há duas semanas - e reafirmou que o governo não pretende decretar moratória - ou reestruturação, na linguagem mais moderada - da dívida brasileira. "Não faz nenhum sentido, no caso brasileiro. Não há a menor necessidade e não vamos fazer", afirmou o ministro. Malan mostrou uma projeção de declínio na relação entre a dívida pública e o PIB. De 58,9% este ano para 58,3% no próximo, até chegar a 47,9% em 2011. Ele também garantiu que as reservas do governo são suficientes para cobrir os US$ 93 bilhões da dívida externa que pertencem ao governo e que a parte privada foi contraída basicamente por grandes empresas, que têm como saldá-la. Apesar da escassez de investimentos para países emergentes, depois dos fortes prejuízos que os bancos tiveram na Argentina e nos Estados Unidos, com a queda nas bolsas, a visita de Malan foi considerada positiva. "É sempre bom dar essas informações sobre a economia brasileira, porque nem todo mundo tem tempo de se informar bem sobre o Brasil", afirmou o diretor da corretora Liability Solutions, Wilber Comerauer, que esteve presente à palestra. Peter West, responsável por América Latina no BBVA, vê a alta de Serra nas pesquisas como um fator positivo para o Brasil. "O resultado (das pesquisas) mudou o humor do mercado hoje. Agora, estamos de volta ao cenário anterior (antes da alta do candidato Ciro Gomes)", afirmou.
Rio de Janeiro, Sexta, 19 de Abril de 2024
Malan usa alta de Serra para 'acalmar' investidores
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Publicado Terça, 10 de Setembro de 2002 às 20:26, por: CdB
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