Mandela encerra reunião sobre a Aids com apelo por dinheiro

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Publicado sexta-feira, 16 de julho de 2004 as 09:22, por: CdB

Nelson Mandela fez nesta sexta-feira um fervoroso apelo por dinheiro e cooperação contra a Aids, encerrando uma semana de discussões marcadas por críticas à abordagem individualista dos EUA no combate à epidemia.

“A história certamente nos julgará com dureza se não respondermos com toda a energia e os recursos que podemos trazer para a luta contra a Aids”, disse o ex-presidente sul-africano, que completa 86 anos no próximo domingo.

No encerramento da 15a. Conferência Internacional da Aids em Bangcoc, Mandela pediu aos países ricos que cumpram as promessas financeiras que fizeram ao Fundo Global para o Combate à Aids, Malária e Tuberculose, criado em 2002.

“Precisamos construir a parceria público-privado, que é a visão do Fundo Global. Desafiamos todos a ajudar a financiar o fundo agora”, disse o Nobel da Paz, herói da luta contra o racismo em seu país e atualmente um dos principais ativistas do combate à Aids. “Permitam-me que eu desfrute da minha aposentadoria mostrando que vocês podem se erguer à altura do desafio.”

O Fundo Global pretende unir forças mundiais contra a Aids, mas precisa de mais 3 bilhões de dólares só neste ano. Os EUA já descartaram a hipótese de ampliar sua contribuição para além dos 200 milhões já comprometidos para o ano que vem. Washington diz que já gasta mais dinheiro no combate à Aids do que todo o resto do mundo junto.

Apesar das críticas de todos os lados – inclusive de Mandela e o secretário-geral da ONU, Kofi Annan — contra seus padrões morais, políticas comerciais e diretrizes de financiamento, os EUA insistem em dizer que lideram a luta mundial contra a Aids, doença que já matou 20 milhões de pessoas e contaminou 40 milhões no mundo.

Randall Tobias, que coordena a questão nos EUA, foi vaiado na conferência e respondeu dizendo que ela foi sequestrada por grupos de interesse, em detrimento de um diálogo aberto e produtivo.

“Uma das tragédias da cultura que se desenvolveu em torno desta conferência é que um número relativamente pequeno de pessoas atrai uma parcela muito desproporcional da atenção. Como resultado disso, a atenção não é dirigida a outros aspectos da conferência, onde as pessoas poderiam trocar idéias, eu acho, de forma um pouco mais eficiente”, afirmou.

A ciência foi relegada ao segundo plano desta vez mas, ao final do encontro, que reuniu 19.843 delegados, os ativistas esperam que ele tenha servido para despertar consciências contra a Aids – especialmente na Ásia, onde vive 60% da humanidade e um quarto dos novos infectados.

“Esta conferência serve para mobilizar a Ásia a não trilhar o caminho da África”, disse o sul-africano Zackie Achmat, da Campanha pela Ação do Tratamento. Sonia Gandhi, líder do governista Partido do Congresso, da Índia, disse que seu país finalmente está atento ao problema.

“Encontrei gente que perdeu o emprego, foi colocada no ostracismo por suas comunidades, que não pode mais ter a esperança de ter filhos saudáveis”, afirmou ela no encerramento da conferência.

“Renovemos hoje nosso compromisso para trabalharmos juntos no sentido de encontrarmos novas formas de atingir com compaixão milhões de homens, mulheres e crianças que são as vítimas trágicas da devastação física e social causada pela Aids”, disse Gandhi. A Índia tem 5,1 milhões de pacientes com o vírus HIV, o segundo maior contingente do mundo, depois da África do Sul.

A próxima reunião deve acontecer em Toronto, em 2006. Os organizadores estão sendo pressionados a reduzirem o orçamento, que neste ano foi de 17 milhões de dólares, e a taxa de inscrição, de mil dólares por delegado.

Até a próxima reunião, os líderes mundiais esperam que o número de pacientes no Terceiro Mundo com acesso a tratamento anti-retroviral tenha passado de 440 mil para entre 3 e 5 milhões.