Por Redação, com DW – de Mariana:
Em meio a tanto desalento, há um único lugar, bem próximo ao epicentro da tragédia de Mariana, onde todos os dias há motivos para comemoração à beira da estrada MG-129.
É num galpão onde um grupo de 30 veterinários e voluntários se reveza durante 18 horas por dia, há um mês, para tratar dos animais feridos na avalanche de lama provocada pelo colapso da barragem de Fundão.
Batizado de Centro de Recolhimento de Animais, pelo menos 650 bichinhos passaram por ali. São cachorros, gatos, galinhas, gansos, patos, bois, vacas, porcos e cavalos que, após passarem dias atolados na lama à espera do resgate, ganharam comida, medicamentos, vacinas e, principalmente, carinho.
– Muitos chegaram doentes e com fome, mas receberam toda a assistência que precisam. Agora estamos entrando numa segunda fase do trabalho, onde vamos aguardar para que as famílias possam identificar seus bichinhos e levá-los de volta para casa assim que possível. Muitos estão em situação de estresse, principalmente os cachorros e cavalos. Depois de todo o trauma pelo qual passaram, estão já há muito tempo presos aqui – conta a veterinária Ana Liz Bastos, trabalhando ali desde o primeiro resgate, ocorrido no povoado de Bento Rodrigues.
Nos primeiros dias após o tsunami de lama, os animais de grande porte sequer conseguiam se levantar. Passados 30 dias, cavalos ainda aparentam estar abaixo do peso, vacas exibem marcas dos ferimentos pelo corpo, e vários cãezinhos precisam de curativos, que são trocados diariamente.
O tratamento é lento, mas eficiente. E a missão de devolver a vida a tantos bichos é prazerosa para voluntários que correm de um lado para outro alimentando, acariciando e tratando de todos eles.
– Nossa meta é salvar vidas a qualquer custo – resume Ana Liz.
À procura dos donos
Os trabalhos de resgate começaram comandados por estudantes, veterinários, bombeiros civis e membros da Associação Ouro-pretana de Proteção Animal (Aopa) e ganharam, nos últimos dias, o apoio da mineradora Samarco, responsável pela barragem acidentada.
E as diligências em busca de outras vítimas continuam, mas sob a responsabilidade da empresa, uma vez que muitos animais estão retornando às áreas atingidas e acabam vagando sozinhos pela lama, correndo o risco de atolarem no lamaçal e morrerem de fome.
O centro vai funcionar por tempo indeterminado, até que os animais possam se reunir aos donos. Quase 50% já foram identificados. Aqueles que não puderem ser recebidos de volta serão encaminhados para adoção ou levados a fazendas, no caso de animais de grande porte.
Mas o agricultor Juarez Mariano de Souza não quer nem pensar nisso. Ele já encontrou no galpão um cavalo de seu tio e o cachorrinho Lui, de seu sobrinho. E não vê a hora de levar os animais de volta para sua família. O problema: os Souza perderam tudo em Bento Rodrigues e ainda estão esperando o reassentamento em uma nova casa.
– Lui é muito tranquilo e brincalhão. Não vamos deixá-lo para trás de jeito nenhum – garante o agricultor, saudado com pulos de alegria do amigo canino.
Mariana: em meio à destruição, um local de esperança
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Publicado segunda-feira, 7 de dezembro de 2015 as 14:40, por: CdB