Meirelles assume com discurso austero

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Publicado terça-feira, 7 de janeiro de 2003 as 20:37, por: CdB

Ao assumir o Banco Central, nesta terça-feira, o novo presidente da instituição, Henrique Meirelles, disse que vai combater, sem tréguas, as expectativas de mudança do patamar inflacionário e a indexação da economia. A solenidade de transmissão do cargo, no auditório do banco, contou com a participação de vários ministros, do governador de Goiás, Marcone Perillo, e de muitas outras autoridades e políticos daquele estado, terra natal de Meirelles. O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, ressaltou que a presença em grande número de conterrâneos de Meirelles, na transmissão do cargo, demonstra apoio à sua decisão de abdicar do mandato de deputado federal para comandar o Banco Central. “Meirelles tem todo o apoio para trabalhar”, reforçou o ministro.

Na avaliação do novo presidente, em função da crise de confiança no crédito público e na economia brasileira no ano passado, que resultou em acentuada depreciação cambial, está sendo observada elevação da taxa de inflação corrente e contaminação das expectativas de inflação futura. Meirelles afirmou, em seu discurso, que, nesse contexto, a condução da política monetária terá como prioridade estratégica evitar que esta alta transitória de inflação seja percebida como permanente.

Segundo Meirelles, o objetivo é trazer a inflação de volta à trajetória das metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (FMN). Para este ano a meta é de 4%, com intervalo de tolerância de 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos. Ele informou que o Banco Central perseguirá uma trajetória de convergência para as metas de inflação, levando em conta que esta não se dará de forma instantânea.

“Em todo o mundo, é prática comum entre os bancos centrais diluir a convergência da inflação corrente às metas em um período mais longo que um ano. Isto é particularmente importante quando ocorre uma bolha inflacionária devido a um choque de custos como é o nosso caso”, explica o novo presidente. Ele observa que vai realizar esse movimento mirando uma inflação que leva em conta a inércia herdada de 2002 e os choques de oferta originados de aumentos de preços administrados e monitorados em 2003.

Na ocasião, Meirelles voltou a defender o sistema de metas de inflação, que segundo ele, tem como característica, e principal vantagem, a explicitação do objetivo da autoridade monetária, tornando transparente a meta que se persegue e dando ciência à sociedade do compromisso absoluto com a contenção da variação de preços.

“É um regime que reduz ao máximo a arbitrariedade das decisões da autoridade monetária, sendo especialmente adequado para eliminar os riscos de determinação política das decisões,” avalia o novo titular do BC. Ele afirmou que vários países já adotaram o sistema de metas de inflação, como Reino Unido, Canadá e Suécia, entre os desenvolvidos, e Chile, Tailândia e África do Sul, entre os emergentes.

Meirelles citou, ainda, outras vantagens do sistema de metas de inflação, como o de contribuir para que os choques sofridos pela economia sejam administrados com o mínimo de custo para a sociedade. “A flexibilidade do sistema contribui para absorver os choques, enquanto a transparência nas regras de atuação, aliada às metas explícitas, reforça a credibilidade no combate à inflação”, explica.

Para o novo presidente, um aspecto fundamental do regime de metas de inflação é coordenar as expectativas relativas à economia; o que segundo ele, contribui para o alcance das metas, que por sua vez, atingidas, gerarão credibilidade. Por isso, acredita ser fundamental que se trabalhe no sentido de preservar esta credibilidade, afastando qualquer dúvida quanto ao compromisso de combate à inflação. Ele destacou que este combate dever ser feito sem artificialismo, cuja eficácia é temporária, além de produzir distorções de curto e longo prazos na economia.

Como aliado ao sistema de metas de inflação, Meirelles quer a continuação do regime de câmbio flutuante. Na sua opinião, como o país ainda depende de