Bolsonaro deixou claro quem são seus principais apoiadores: o agronegócio, os fundamentalistas, os “agentes públicos de segurança”; quem defende andar armado, os que são contra os direitos humanos.
Por Val Carvalho - do Rio de Janeiro
Vi a entrevista que deu ao programa Roda Viva. É assustador e inacreditável como este político fascista, demagogo e manipulador se tornou a única alternativa real das elites brasileiras.
Mesmo diante de jornalistas afáveis Bolsonaro mostrou claramente três aspectos fundamentais de sua candidatura: 1) despreparo absoluto para governar; 2) fuga permanente das perguntas que não sejam sobre segurança e 3) defesa do aumento da repressão como solução milagrosa para todos os problemas do país. É como se o seu “programa de governo” fosse feito pelo personagem “Massaranduba”, do antigo Casseta e Planeta, que resolvia tudo na porrada.
Bolsonaro deixou claro quem são seus principais apoiadores: o agronegócio, os fundamentalistas, os “agentes públicos de segurança”; quem defende andar armado, os que são contra os direitos humanos e os que não concordam que o Brasil tenha relações econômicas com países comunistas. Como China, por exemplo. Essa é a essência de seu “programa de governo”.
Fascista
Contraditório e demagogo disse que, como presidente, não iria negociar cargos com os partidos, não faria o “toma lá, dá cá” como gosta de falar para impressionar o povão. Porém, os partidos e as bancadas que o apoiam, as chamadas bancadas da bala, do boi e da bíblia, são as mais corruptas e as que mais exigem cargos em troca de apoio. Em sua maioria são os políticos eleitos com o dinheiro arrecadado por Eduardo Cunha nas eleições de 2014.
Perguntado se defende a tortura, como no passado recente, Bolsonaro disse que “amadureceu” e agora defende “interrogatório enérgico”, como nos Estados Unidos. É a tortura com outro nome. Além de defender a transformação da polícia em uma instituição de extermínio, ele entende que a prisão não é para a ressocialização do preso, como está na Constituição e na legislação penal, mas para isolá-lo da sociedade, e quanto maior a pena, melhor.
Ou seja, é um campo de concentração. Por essa concepção de fundo fascista, os presos têm de ser amontoados, sem nenhum direito ou assistência médica, e mantidos ali para morrer ou se matarem. Como vai fazer tudo isso sem mudar a Constituição e o Código Penal, não diz.
Violência
Como vai conseguir o tal superávit fiscal, preocupação central do mercado financeiro? Na maior cara de pau Bolsonaro disse que seria com o aumento da segurança. Tudo para ele se reduz a essa questão: segurança, segurança e segurança. Disse que vai permitir que os proprietários do campo (os latifundiários) se armem de fuzis automáticos do exército para expulsar a bala os invasores índios e do MST de suas terras. Afinal, a propriedade privada é ou não "sagrada", diz triunfante.
Perguntado se respeitaria as minorias ele disse que o Brasil tem de estar unido e não dividido em mulheres, negros, gays, colocando tudo no mesmo balaio.
Entrevistar Bolsonaro é muito difícil. Ou ele foge da pergunta ou fala sem parar sobre segurança e combate à violência; não deixando ninguém interromper ou questionar. Seu discurso visa dois públicos: o povão, assustado com a violência e o mercado financeiro; temeroso com a possível volta de Lula. Mistificador, apresenta-se como “capitão do Exército”, com "Deus no coração", defensor da família e da propriedade, e ainda um “patriota”, embora não veja nenhum problema entregar as riquezas do Brasil para os países “amigos”, menos a China, é claro.
Val Carvalho é articulista do Correio do Brasil.