O avanço do dólar foi contido por expectativas de ingressos de recursos no Brasil e por apostas de que os juros norte-americanos não devem subir tão cedo após dados fracos nos Estados Unidos
Por Redação – de Brasília e São Paulo
O dólar subia pela segunda sessão consecutiva e era negociado no patamar de R$ 3,15 nesta sexta-feira, após o Banco Central manter o ritmo mais intenso de intervenções no câmbio e o presidente de facto Michel Temer demonstrar preocupação com a queda recente da moeda norte-americana.
O avanço era contido, porém, por expectativas de ingressos de recursos no Brasil e por apostas de que os juros norte-americanos não devem subir tão cedo após dados fracos nos Estados Unidos. Às 11:16, o dólar avançava 0,58%, a R$ 3,1581 na venda, após subir 0,25% na véspera. A moeda norte-americana havia recuado nas sete sessões anteriores, atingindo novas mínimas em mais de um ano. O dólar futuro subia 0,33% nesta manhã.
— A fala de Temer adicionou algum ruído ao mercado e deve deixar o dólar um pouco mais pressionado, pelo menos até que os fluxos de capital (para o Brasil) comecem a se materializar — disse o operador da corretora Intercam Glauber Romano à agência inglesa de notícias Reuters.
Temer afirmou a um jornal especializado em Economia que é preciso “manter um certo equilíbrio no câmbio” e ressaltou que figuras do setor corporativo discutiram o recuo recente da moeda norte-americana com ele.
— Nem pode ter o dólar num patamar elevado, nem um dólar derretido — disse.
Cotações baixas do dólar tendem a prejudicar a indústria ao encarecer exportações, enquanto cotações altas elevam os preços de insumos importados e podem contaminar a inflação. As declarações vieram após o BC intensificar sua intervenção no câmbio na véspera, vendendo 15 mil swaps reversos –que equivalem a compra futura de dólares– em vez dos costumeiros 10 mil, e manteve esse ritmo nesta manhã.
Nesta manhã, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, repetiu que a instituição utilizará com parcimônia seus instrumentos cambiais e reiterou o compromisso com o câmbio flutuante.
— Houve uma ‘intervenção verbal’ da parte do Temer, que deve ser suficiente para segurar o dólar acima de R$ 3,10 por algum tempo — disse o operador de uma corretora nacional, sob condição de anonimato.
Ainda assim, investidores continuavam no aguardo de fluxos de recursos no Brasil relacionados a operações corporativas recentes e ao renovado interesse em ativos brasileiros. Muitos esperam, porém, que esse movimento só ganhe força após a confirmação do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, que deve acontecer no fim deste mês.
Além disso, expectativas de que o Federal Reserve, banco central norte-americano, não volte a elevar os juros neste ano após uma série de dados mistos sobre a economia norte-americana davam suporte a ativos emergentes, que oferecem rendimentos elevados.
Nesta manhã, dados fracos sobre vendas no varejo e preços ao produtor levaram operadores a reduzirem ainda mais suas apostas em aumentos de juros nos EUA em 2016.
Dólar pressionado
Na entrevista, Michel Temer reconheceu que a aprovação da reforma da Previdência será “uma luta feroz”, disse que é preciso “manter um certo equilíbrio no câmbio” e prometeu anunciar no próximo dias 25 a lista das empresas a serem desestatizadas.
Temer disse também ver “um sucesso extraordinário” nos três meses de seu governo.
— Vai ser uma luta feroz. Quando você me pergunta o que ocorrerá depois do impeachment, essa será uma das batalhas — disse Temer
Sobre a reforma da Previdência, acrescentou que vai encaminhar o projeto ao Congresso assim que as negociações preliminares estiverem concluídas “para asfaltar o terreno”.
— Não quero praticar estelionato eleitoral, então, não vou esperar passar a eleição. Se ficar pronta, eu mando antes — diz ele.
Perguntado sobre as privatizações, o presidente de facto disse que “no dia 25 vamos anunciar as empresas que serão desestatizadas”, data provável do início do julgamento final da presidente afastada Dilma Rousseff. A Petrobras está entre elas, segundo apontou outra fonte, ao Correio do Brasil.