Messi quer o Oscar internacional para o filme Argentina 1985

Arquivado em:
Publicado Quinta, 09 de Março de 2023 às 05:00, por: Rui Martins


Discreto, mas não omisso, o melhor futebolista do século XXI fez questão de dar uma força ao concorrente de seu país ao Oscar de melhor filme internacional:


"Que grande filme Argentina, 1985, com Ricardo Darín, que está indicado ao Oscar. Vamos pelo terceiro!"

A referência de Leonel Messi é às duas produções argentinas que anteriormente receberam a mesma estatueta, A História Oficial (dirigido por Luis Puenzo, 1985)  e O Segredo dos seus Olhos  (d. Juan José Campanella, 2009)


Por Celso Lungaretti




DIRETO-CONVIDADO11-2-300x169.jpg
Filme Argentina 1985 mostra o julgamento e condenação de Massela e Videla Celso Lungaretti




O filme de Santiago Mitre relembra o primeiro julgamento dos  responsáveis pelas torturas e mortes dos opositores ao regime.


O alvo inicial foram os maiores culpados, os ex-ditadores e os antigos comandantes das Forças Armadas, tendo sido condenados à prisão perpétua os dois réus mais conhecidos:

—  o general Jorge Videla, que integrou a Junta Militar e depois exerceu a ditadura; e

— o almirante Emilio Massera, outro participante da Junta, que encabeçou centenas de sequestros, torturas e assassinatos à frente da Escola de Mecânica da Armada (Esma),


Desobstruído o caminho, os executantes das ordens hediondas seriam objetos de outros processos. Estima-se que, nos porões da ditadura mais sanguinária da América Latina, tenham sido exterminados cerca de 30 mil argentinos, entre 1976 e 1983.



Argentina, 1985 é muito impactante para quem não conhece a história terrível dos anos de chumbo em nosso continente, e menos para quem conviveu com os mesmos horrores por aqui.



É difícil para os que (como eu) conhecem essa história de cor e salteado, comoverem-se tanto tempo depois com os dramas praticamente idênticos de companheiros de outros países, após passarem uma vida adulta inteira lamentando o martírio daqueles que fizeram parte das suas vidas.


Nunca me conformei, nem me conformarei, com as perdas dos melhores dentre os melhores que a esquerda


brasileira já produziu. Nunca os esquecerei.


E é óbvio que ver bons argentinos agindo com tanta dignidade e coragem só faz crescer meu desprezo pelos frouxos brasileiros que não ousaram pagar pra ver quando os veteranos do arbítrio blefavam descaradamente para garantir sua impunidade, seja em em  1979, seja em 1985, seja no final da década retrasada.



No fundo, uma sensação de fracasso me fustiga, pois tanto empenhei-me, em vão, para que o pusilânime governo lulista deixasse seus dois ministros mais corajosos (Tarso Genro e Paulo Vannuchi) articularem a revogação da anistia de 1979, única hipótese em que a corja dos porões poderia ir parar atrás das grades.



Foi uma das piores das minhas batalhas perdidas. Mas pode ser superada pela impunidade de Jair Bolsonaro, cuja sabotagem ao combate científico à pandemia de covid o fez responsável pelo extermínio de centenas de milhares de brasileiros (pobres e idosos, principalmente), afora o genocídio de indígenas. Só uma ampla mobilização popular impedirá mais essa infâmia.



Argentina, 1985 pode ser assistido no streaming da Prime Vídeo ou baixado nesste neste link https://torrentdosfilmes.eu/argentina-1985-2022-download-torrent-21-10-2022/  É informação das mais necessárias e relevantes para as novas gerações.


Por último, uma interessante coincidência: foi no dia seguinte àquele no qual o dr. Sócrates faria 69 anos (19.02) que Messi ousou associar o seu nome a um filme que confronta incisivamente os gorilas argentinos do passado (duvido que a raça esteja extinta, pois a cadela do fascismo, como disse Brecht, está sempre no cio).





DIRETO-CONVIDADO11-2-300x169.jpg



Não o fez de forma panfletária, mas quem assistiu ao filme percebe claramente que ele terá desagradado a muitos dos piores seres humanos de seu país, no qual pretende residir quando encerrar a carreira.



Sei lá se o melhor jogador de todos os tempos foi o do século passado ou o do século atual, pois o futebol  mudou tanto que não há como fazer uma comparação consistente. Mas, em matéria de caráter, Messi ganha de goleada. (Publicado originalmente no blog Náufrago da Utopia)



Por Celso Lungaretti, jornalista, escritor e militante contra a Ditadura.




Direto da Redação é um fórum de debates publicado no jornal Correio do Brasil pelo jornalista Rui Martins-


Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo