Cuba tem estado na ordem do dia desde 1 de janeiro de 1959 quando da derrubada do governo do então sargento Fulgêncio Batista, sempre apoiado pelos Estados Unidos. Quem acompanha os analistas de sempre e os futurólogos de plantão, de um modo geral baseados em informações divulgadas pelo Departamento de Estado norte-americano, está sujeito a ter uma imagem deturpada da ilha caribenha. Cuba vem sendo objeto de um bombardeio midiático diário, sem precedentes na história recente tendo por objetivo transformar o país no inferno da Terra.
O escritor uruguaio Eduardo Galeano escreveu, de forma bem humorada em uma de suas tantas crônicas, que pelo menos desde o início dos anos 60 os analistas fazem previsões sobre o “fim do regime” e a “derrubada de Fidel Castro”. Os “futurólogos” simplesmente não se importam com os erros de previsão e depois de algum tempo repetem o refrão.
Quando Fidel anunciou que não exerceria mais as funções de Presidente de Cuba, os analistas e futurólogos de plantão se sentiram na base dos últimos a saberem. Raivosos porque não esperavam este tipo de desfecho, recomeçaram as previsões numa demonstração de total desconhecimento da realidade cubana.
Jimmy Clinton, George W. Bush e o próprio atual Presidente Barack Obana sempre insistiram em falar sobre a “transição para a democracia em Cuba”, algo por sinal repetido muitas vezes pelos analistas de plantão nos mais diversos rincões.
Os Presidentes mencionados e os analistas de plantão na prática faziam, e fazem, o jogo dos grupos de extrema direita do exílio cubano na Flórida. Que os políticos assim agissem, faz parte do jogo da tentativa da desestabilização, mas jornalistas em colunas diárias repetindo a receita, não raramente com traduções mal feitas, depõe contra estes profissionais.
Com a eleição de Raul Castro para chefe do Conselho de Estado e no correr dos anos com a realização de reformas econômicas, sobretudo, Cuba demonstrou exatamente o contrário do que dizem os defensores do Deus mercado, ou seja, que é um país com um regime estável e que moderniza.
Fidel Castro passou o bastão em vida, continuando ativo em suas reflexões e consultado em questões transcendentais, numa demonstração de que o país segue em absoluta normalidade, o que tem deixado os inimigos desesperados, haja vista, por exemplo, o candidato republicano John McCain, que não fez por menos chegando até a despachar Fidel para um encontro com Marx, naturalmente para abocanhar os votos da Flórida, muito influenciado por cubano-americanos que querem o “retorno à democracia” como nos tempos em que a ilha caribenha era o “prostíbulo do Caribe”.
O bloqueio comercial visando a derrubada do regime continuou todos estes anos numa demonstração de que a ilha caribenha pôde enfrentar com galhardia as vicissitudes derivantes da medida de caráter colonial.
Cuba na recente crise do vírus ebola começou a mandar contingentes de médicos para a África em auxílio a povos necessitados de assistência. Desta vez, até mesmo o Secretário de Estado, John Kerry teve de reconhecer qa importância da ação dos médicos cubanos que dão exemplo de solidariedade sem precedentes.
Enquanto isso, o mundo segue girando. Na Bolívia, antes mesmo da recente estrondosa reeleição de Evo Morales, o governo tinha suspendido o que acontecia durante muitos anos no país, ou seja, a ida de militares para fazer cursos no chamado Instituto do Hemisfério Ocidental para a Cooperação em Segurança, que nada mais é do que a mudança cosmética da antiga Escola das Américas, localizada no Panamá, onde passaram milhares de “estudantes” que ao regressarem aos seus países de origem colocaram em prática os ensinamentos de torturas contra combatentes oposicionistas.
Hoje, além da Bolívia estão de fora a Argentina, Uruguai, Venezuela e o Brasil. O Peru continua. Numa demonstração concreta que os tempos agora são outros por estas bandas.
As mudanças ocorridas na América Latina naturalmente desagradam a Washington, que ainda tenta de todas as formas fazer o continente voltar a ser seu “pátio traseiro” ou “quintal”, como era considerado pela potência apoiadora de golpes de forças objetivando a derrubada de governos que não rezavam pela cartilha do império.
Em muitas ocasiões, em áreas onde golpes ao estilo clássico ficaram para trás, Washington tenta utilizar métodos mais sutis para tentar manter a sua hegemonia. Usam até técnicas de marketing para convencer a opinião pública sobre falsas necessidades de mudanças. Para tanto contam com a ajuda da mídia conservadora, nos dias atuais verdadeiros espaços ideológicos do pensamento de marcha para trás.
A tudo isso, em muitos casos o povo tem dado respostas positivas neutralizando as tentativas de mudanças, na verdade marchas para trás.
Como se trata de um processo permanente, as tentativas não terminam, mesmo com as respostas que estão sendo dadas pelos povos em vários países.
Por estas e outras, cada vez mais todo cuidado é pouco na preservação de conquistas que os setores conservadores sempre tentam acabar.
Mário Augusto Jakobskind, jornalista e escritor, correspondente do jornal uruguaio Brecha; membro do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (TvBrasil). Seus livros mais recentes: Líbia – Barrados na Fronteira; Cuba, Apesar do Bloqueio e Parla , será lançado dia 17, no Rio de Janeiro.
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