Ministro do TSE rejeita pistas sobre quem patrocina fake news

Arquivado em:
Publicado Segunda, 22 de Junho de 2020 às 11:49, por: CdB

A CPI identificou 24 linhas celulares que foram responsáveis pela maior parte dos disparos em massa durante o período eleitoral. No entanto, segundo o corregedor, a investigação estaria em fase “prematura”, faltando perícia da Polícia Federal (PF) nesta lista.

Por Redação - de Brasília e Rio de Janeiro

Enquanto os agentes federais que investigam a disseminação de notícias falsas e ameaças aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e seus familiares avançam na identificação dos empresários que patrocinam o esquema criminoso, o corregedor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Og Fernandes, decidiu ignorar, nesta segunda-feira, documentos do WhatsApp que permitiriam identificar os autores de disparos em massa nas eleições de 2018. Esses dados estão em posse da CPI das Fake News no Congresso e no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) em São Paulo.

og-fernandes.jpg
O ministro Og Fernandes, do TSE, determina que a lista de empresários citados como patrocinadores de fake news seja periciada

A CPI identificou 24 linhas celulares que foram responsáveis pela maior parte dos disparos em massa durante o período eleitoral. No entanto, segundo o corregedor, a investigação estaria em fase “prematura”, faltando perícia da Polícia Federal (PF) nesta lista. Essas 24 linhas fazem parte de um conjunto de 400 mil que foram banidas, segundo o WhatsApp, por uso irregular durante a eleição. Deste total, 55 mil tinham comportamento semelhante ao de robôs. São linhas com números dos Estados Unidos, Vietnã, Inglaterra e Brasil, mas operadas de dentro do Brasil.

Financiado ilegalmente por empresários com recursos não declarados (caixa 2), o esquema teria beneficiado a candidatura do atual presidente, Jair Bolsonaro. Essas contas compartilhavam notícias falsas para atacar o adversário Fernando Haddad (PT). A ação no TSE investiga, justamente, o eventual abuso de poder econômico durante o pleito. Desde 2015, a legislação eleitoral brasileira proíbe empresários de fazer doações para campanhas políticas.

Cinco meses após pedido do PT, a juntada desse material, contudo, poderia atrasar o julgamento da ação, segundo o ministro corregedor. Em entrevista ao portal UOL, a advogada de Jair Bolsonaro, Karina Kufa, negou a participação do presidente no esquema.

Confissões

Em vídeo publicado nas redes sociais ainda durante a campanha para o primeiro turno das eleições de 2018, os empresários Luciano Hang, dono das lojas Havan, e Mário Gazin, também proprietário de uma rede varejista que leva seu sobrenome, confessam o crime de caixa 2. Naquele momento, eles pediam votos para Bolsonaro, “pra não ficar todo mundo gastando para o segundo turno”, segundo Gazin.

Não se sabe o destino dos referidos recursos, mas Hang é um dos investigados no inquérito do Supremo Tribunal Federal sobre o uso de fake news contra ministros do próprio STF. Da mesma forma, seria a continuidade da utilização do sistema de disparos que começou a operar antes, e também durante, a campanha eleitoral.

Ademais, o espanhol Luis Novoa, dono da empresa Enviawhatsapps, confirmou que empresários brasileiros contrataram programa de sua agência para fazer disparos de mensagens em favor de Bolsonaro (PSL). Em gravação divulgada pelo diário conservador paulistano Folha de S.Paulo, em junho de 2019, ele alega que só foi descobrir o uso político quando algumas linhas telefônicas utilizadas passaram a ser cortadas pelo aplicativo de mensagens.

Extremistas

Enquanto o TSE barra um importante caminho nas investigações, a Procuradoria-geral da República (PGR) começa a desvendar o rastro do dinheiro que financia o esquema criminoso que, além das fake news e as manifestações antidemocráticas favoráveis ao fechamento do Congresso e do STF. Documentos vazados para o diário conservador carioca O Globo no inquérito aberto no dia 20 de abril para investigar quem está por trás desses atos mostram que 11 parlamentares bolsonaristas tiveram o sigilo bancário quebrado, e extremistas, donos de sites e canais no YouTube pró-governo foram alvo de mandados de busca e apreensão.

“No despacho em que solicita o cumprimento dessas diligências, o vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques, apresenta duas fontes distintas de financiamento de Sara Giromini, líder do movimento ‘300 do Brasil’. Investigadores receberam informações de que a extremista e seu grupo arrecadaram R$ 10 mil às vésperas do ataque ao prédio do STF com fogos de artifício”, diz o texto.

Aliança pelo Brasil

Ainda segundo o diário; “além disso, uma jornalista chamada Jéssica Almeida, que se infiltrou no grupo de Sara para entender como ele funcionava, relatou que ‘o 300 do Brasil’ arrecadou R$ 71 mil por meio de uma plataforma de doações coletivas. A PGR agora vai buscar saber quem está por trás desses repasses”.

“A PGR também acusa quatro deputados do PSL de usarem dinheiro público para divulgar as manifestações antidemocráticas em suas redes sociais. Segundo o inquérito, Bia Kicis (DF), Guiga Peixoto (SP), Aline Sleutjes (PR) e General Girão (RN) gastaram dinheiro da cota parlamentar para propagar as mensagens virtualmente. Juntos, eles repassaram R$ 30,3 mil para a Inclutech Tecnlogia, empresa do marqueteiro Sérgio Lima, responsável por cuidar da marca do Aliança pelo Brasil, partido que o presidente Jair Bolsonaro tentar criar”, conclui a publicação.

Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo