Pouco mais de um mês desde o início da vacinação, apenas 2,76% dos brasileiros receberam a primeira dose; e somente algo em torno de 11% do orçamento destinado aos imunizantes foi efetivamente executado. Governo não tem limites em sua insanidade, insensatez e desprezo pela vida dos brasileiros
Por Marco Campanella - de Brasília
Execução orçamentária pífia
Os indicadores de execução das medidas de contenção e prevenção da pandemia mostram que não houve mudança qualitativa alguma na conduta governamental. Senão, vejamos: Bolsonaro só conseguiu gastar, até agora, 9% do dinheiro liberado em caráter de urgência e emergência para a compra e o desenvolvimento de vacinas contra a covid-19, uma mostra do atraso na tentativa de vacinar em massa a população brasileira. O cálculo não inclui os pagamentos feitos nesta semana pelas doses de Coronavac, do Instituto Butantan, porque o Ministério da Saúde não informou de onde saiu o dinheiro e ainda não há registros do gasto nos sistemas de execução orçamentária consultados. Três Medidas Provisórias (MPs) assinadas por Bolsonaro em agosto, setembro e dezembro abriram créditos extraordinários que somam R$ 24,5 bilhões. O país chegou à metade de fevereiro com apenas R$ 2,2 bilhões efetivamente gastos, segundo dados de execução orçamentária da Câmara dos Deputados (atualizados no último dia 10) e do Ministério da Saúde. No último dia 9 e 10, o Butantan, vinculado ao governo de São Paulo, recebeu R$ 505 milhões do ministério pelo fornecimento de 8,7 milhões de doses da CoronaVac. Se for levado em conta esse valor, e considerando que ele tenha saído do dinheiro emergencial destravado para a compra de vacinas, o total gasto até agora chega a R$ 2,7 bilhões, ou 11% dos créditos criados. Quando e como o governo executará os outros 89% dessa verba orçamentária é a pergunta mais instigante do momento. Dos que estão travando a batalha em campo e tentando salvar milhares de vidas todos os dias e da população brasileira que não suporta mais tamanha irresponsabilidade e incompetência, explicadas tão-somente pelo caráter genocida da gestão empreendida por Bolsonaro e seu intendente ministro da Saúde.Terraplanismo sanitário
O passo lento da vacinação tem a ver também com o terraplanismo sanitário que dominou as ações do governo no combate à pandemia com a produção, compra e prescrição de medicamentos que, cientificamente, não tem qualquer eficácia na contenção do coronavírus, podendo, em muitas situações, provocar a morte do usuário ou deixar sequelas para o resto da vida. A cloroquina, com Bolsonaro e Pazuello, tornou-se o carro-chefe do combate à covid-19! Não por outro motivo, o Tribunal de Contas da União) cobrou do Ministério da Saúde informações sobre a distribuição de cloroquina produzida para controle da malária que acabou remetida a pessoas com Covid-19 e deu dez dias para o órgão informar nomes, CPFs e cargos de responsáveis por ampliar a produção e por fazer a mudança no objetivo do programa de malária, cobrança que se estende também à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), desviada em suas finalidades pelo delírio bolsonarista disposto a macular uma instituição centenária de vanguarda em boas e inovadoras práticas imunizantes, reconhecida mundialmente.Resistência às vacinas continua
Mesmo diante da gravidade desse cenário, a Anvisa mantém sua postura de resistência em acelerar a liberação dos novos imunizantes – a mesma que dificultou enquanto pôde a liberação da vacina do Butantan, a CoronaVac. O presidente da agência reguladora chegou a pedir audiência a Bolsonaro para solicitar o veto a dispositivo da MP recém-aprovada pelo Congresso Nacional que torna mais célere a autorização emergencial para uso das vacinas, diante do quadro de absoluta urgência e anormalidade em que o país se encontra. O alvo, agora, é a autorização para uso emergencial, imunizante russo que já está sendo aplicado com sucesso em mais de duas centenas de países e que será produzido no Brasil pela União Química, uma empresa genuinamente nacional. Até o momento, o Brasil dispõe de apenas duas vacinas: a CoronaVac, do Instituto Butantan em parceria com o Laboratório Sinovac, chinês; e a Astrazeneca, da Universidade de Oxford, do Reino Unido, ambas aprovadas em 17 de janeiro. Apenas a título de comparação, o México, com uma população bem inferior à do Brasil, cerca de 130 milhões, já aprovou cinco vacinas que já estão sendo aplicadas na imunização naquele país. Os demais imunizantes, Sputnik (Rússia) Pfeizer (EUA e Alemanha), Ad26.COV2.S (EUA) e Covaxin (Índia), ainda estão em estudo sem previsão de serem liberados para uso em massa. Esse é retrato da vacina, enquanto, na outra ponta, a propagação do vírus se intensifica, gerando novas e desafiadoras variações. Resultado: desde que a primeira dose da CoronaVac foi aplicada na enfermeira Mônica Calazans, em São Paulo, no dia 17 de janeiro, exatos 5.853.753 doses foram aplicadas em todo pais até o último sábado, o que representa apenas 2,76%% da população brasileira, sendo que somente 1.172.208 receberam a segunda dose. Portanto, apenas 0,55% dos brasileiros encontram-se, hoje, efetivamente protegidos do vírus.Mobilização, já, para deter o genocídio
Os números falam por sí só e exigem que o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal se mobilizem em torno de uma ação conjugada para exigir do governo Bolsonaro o cumprimento de suas responsabilidades como Poder Executivo. É hora, aliás, já passou da hora dessa concertação mais decidida e integrada entre os poderes legislativo e judiciário, que já conta com amplo e decidido apoio social. Basta ver as pesquisas. Não há mais tempo a perder, e ainda é tempo para evitar o sacrifício de milhares de outros brasileiros. A omissão ou rendição diante da renitente postura genocida do governo na crise também serão cobradas implacavelmente em futuro próximo. Aos que pensam que já chegamos ao fundo do poço, nunca é demais lembrar que sempre é possível piorar o que já é muito ruim. Urge recuperar o tempo perdido, já que as vidas que se foram não voltam mais. O genocídio bolsonarista segue sua marcha insana. A realidade já mostrou que o número crescente de mortos pela pandemia não sensibiliza em nada o governo, servindo apenas como elemento retroalimentador da dinâmica genocida. Ou detemos essa insensatez abismal, ou o custo social e econômico será avassalador, para a nação e o nosso povo.Marco Campanella, é jornalista.
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