“Quando assumi, sabia dos riscos. Vou descansar um pouco. Nesses 22 anos foi muito trabalho. Quero dizer que, independentemente de onde eu esteja, vou estar à disposição”, disse Moro, ao se despedir do cargo.
Por Redação – de Brasília
O ministro da Justiça, Sérgio Moro, desmentiu o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) ao negar que o diretor da Polícia Federal, Maurício Valeixo, demitido na madrugada desta sexta-feira, tenha pedido para deixar o cargo.

Segundo Moro, durante conversa com Bolsonaro, na véspera, ele disse que se não houvesse uma razão para demitir o diretor da PF, isso seria uma interferência política, com o que Bolsonaro concordou:
– ‘E é mesmo’, disse (o presidente) – revelou Moro.
Em pronunciamento público, nesta manhã, Moro deixou o Ministério, quase dois anos depois de deixar a magistratura e assumir o posto, a convite de Bolsonaro.
– Quando assumi, sabia dos riscos. Vou descansar um pouco. Nesses 22 anos foi muito trabalho. Quero dizer que, independentemente de onde eu esteja, vou estar à disposição – afirmou.
‘Inevitável’
O agora ex-ministro da Justiça e Segurança Pública acrescentou, em seu pronunciamento, que desde o período da Operação Lava Jato sempre se preocupou com a possibilidade de interferência política na PF. Ele disse lamentar ter de tomar uma decisão durante a pandemia de coronavírus, mas disse que era “inevitável”.
– Não são aceitáveis indicações políticas – afirmou.
Moro falou em “violação de uma promessa que me foi feita inicialmente de que eu teria uma carta branca”.
– Haveria abalo na credibilidade do governo com a lei – acrescentou.
Moro havia imposto como condição para permanecer no governo que pudesse discutir com Bolsonaro o nome do sucessor de Valeixo à frente da PF, o que não aconteceu, de acordo com uma fonte com conhecimento da decisão do ministro de deixar o governo.
Crime
Ainda em seu pronunciamento à imprensa, Sergio Moro apontou mais um crime de responsabilidade de Jair Bolsonaro, o que apressa a abertura de um pedido de impedimento, na Câmara dos Deputados, onde há 24 pedidos pendentes nesse sentido. Segundo Moro, Bolsonaro quis trocar o comando da Polícia Federal para obter informações de investigações ligadas à sua família, o que representaria um crime de responsabilidade.
– O presidente me relatou que queria ter uma indicação pessoal dele para ter informações pessoais. E isso não é função da PF. Isso não é função do presidente, ficar se comunicando com Brasília para obter informações pessoais. Esse é um valor fundamental que temos que preservar dentro de um Estado democrático de direito – declarou, citando novamente o nome da ex-presidente Dilma Rousseff, sobre quem já havia reconhecido ter dado autonomia à PF durante o período da Lava Jato.
Demissão
Moro, um pouco antes, havia explicado que não era verdadeira a versão de que Maurício Valeixo, demitido da diretoria da PF, teria pedido para sair.
– Há informações de que o Valeixo gostaria de sair, mas isso não é totalmente verdadeiro. O ápice da carreira de qualquer delegado é o comando da Polícia Federal. Depois de tantas pressões para que ele saísse, ele até manifestou que seria melhor sair – explicou.
Ainda segundo o ex-ministro, “temos que garantir a autonomia da Polícia Federal contra interferências políticas”.
– Ele havia me garantido autonomia. Poderia ser alterado o diretor da Polícia Federal desde que houvesse uma causa consistente. Então realmente é algo que eu não posso concordar. Vou começar a empacotar minhas coisas e dar sequência à minha carta de demissão – concluiu.