Publicado Terça, 24 de Dezembro de 2019 às 10:31, por: CdB
Na noite passada, Bebianno disse que interpelaria o ex-patrão, judicialmente, para que Bolsonaro confirme, ou negue, as declarações na entrevista concedida à revista semanal de ultradireita Veja. O mandatário afirmou que um ex-assessor dele teve participação no atentado a faca.
Por Redação - de Brasília
Um integrante do Ministério Público Federal (MPF), que falou em condição de anonimato à reportagem do Correio do Brasil, na manhã desta terça-feira, avalia que o inquérito sobre a facada no presidente Jair Bolsonaro (sem partido), quando ainda candidato, em Juiz de Fora (MG), tomará um novo rumo a partir das declarações do ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gustavo Bebianno, demitido após um embate público com os filhos do presidente.
Bebianno foi escorraçado do governo de Jair Bolsonaro, após ser chamado de mentiroso, e agora enfrenta uma investigação da PF
Segundo a fonte, “parece haver muito mais a ser apurado do que disseram as partes, até agora”. Na noite passada, Bebianno disse que interpelaria o ex-patrão, judicialmente, para que Bolsonaro confirme, ou negue, as declarações na entrevista concedida à revista semanal de ultradireita Veja. O mandatário afirmou que um ex-assessor dele teve participação no atentado a faca.
Vice-presidente
Bolsonaro não revelou a identidade do suspeito embora tenha descido a detalhes que enquadram Bebianno no perfil de quem, segundo o presidente, “fez de tudo para queimar” indicados à Vice-presidência em sua chapa. Ele citou, como exemplo, o deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP).
— O meu sentimento é que esse atentado teve a mão de 70% da esquerda, 20% de quem estava do meu lado e 10% de outros interesses. Tinha uma pessoa do meu lado que queria ser vice. O cara detonava todas as pessoas com quem eu conversava. Liguei para convidar o Mourão às 5 da manhã do dia em que terminava o prazo de inscrição. Se ele não tivesse atendido, o vice seria essa pessoa. Depois disso, eu passei a valer alguns milhões deitado — disse Jair Bolsonaro aos jornalistas.
Bebianno, por sua vez, alega que trabalhou para que o candidato a vice fosse outra pessoa.
— Trabalhei exaustivamente pela minha candidata, que era a Janaína. Fiz o que pude. O presidente precisa urgentemente buscar auxílio psiquiátrico. Ele não está bem. No primeiro momento, quando soube da alegação, fiquei perplexo e indignado. Sou um ser humano normal. Mas, sinceramente, agora, me dá pena perceber o estado emocional e psíquico em que ele se encontra. Não obstante, independente disso, diante da gravidade do fato, sou obrigado a buscar respaldo judicial. Lamento muito tudo isso — desabafou o ex-ministro, em conversa com repórteres.
Pontos nebulosos
Era 6 de setembro de 2018 quando Bolsonaro teria recebido uma facada, em um suposto atentado cometido pelo ex-garçom Adélio Bispo de Oliveira, durante a campanha presidencial. Com uma possível ferida no abdômen, provocada por uma faca de 30 centímetros, Bolsonaro teria se submetido a uma cirurgia de emergência na Santa Casa de Misericórdia local e, no dia seguinte, transferido ao Hospital Albert Einstein, na capital paulista.
O ato, por completo, afastou o então candidato dos debates públicos previstos pela legislação eleitoral e, com o trabalho de um grupo de ativistas digitais, chegou ao segundo turno contra o ex-prefeito Fernando Haddad (PT). Ao longo do tempo, Bolsonaro foi submetido a outras três operações para reparos no intestino, a mais recente delas em setembro deste ano.
Investigações
As investigações da Polícia Federal concluíram que Adélio teria agido sozinho, mas as investigações ainda tentam apurar pontos nebulosos, a exemplo da presença de Adélio no mesmo clube de tiro frequentado pela família Bolsonaro, no Paraná. A Justiça considera Adélio inimputável, em função de transtornos mentais, e ele continua internado no presídio federal de Campo Grande (MS).
Em linha com o que disse o integrante do MPF à reportagem do CdB, o procurador-geral da República, Augusto Aras, afirmou, em entrevista recente, que será necessário o aprofundamento das investigações sobre o suposto ataque a Bolsonaro, no ano passado, por acreditar que Adélio Bispo não agiu como um “lobo solitário”.
— Ainda é tempo de buscar a verdade real do atentado — concluiu Aras.