A filósofa Marilena Chaui reconheceu estar preocupada com a democracia brasileira; e com as eleições de outubro. Disse que, em outros anos eleitorais, no mês de abril; já se sabia com mais clareza quem eram os candidatos.
Por Redação, com RBA – de São Paulo
Uma imensa maioria da classe média brasileira está arrependida de ter ajudado a depor a presidenta Dilma Rousseff (PT), há exatos dois anos. Muitos fingem que não, avalia a filósofa Marilena Chaui.
Analista contundente da realidade brasileira, ela participou, na noite passada, do programa Entre Vistas, da TVT, apresentado pelo jornalista Juca Kfouri. O programa é exibido semanalmente às 21h, em São Paulo, pelo canal digital 44.1 – também no Youtube e Facebook.
— É impossível que ela (a classe média) não veja todos os dias os resultados do governo Temer. Há essa percepção, mas ela é razoavelmente enrustida. Se você der visibilidade para o equívoco, a classe média recua. Acho que ela se deu conta de que foi um passo equivocado — avalia Marilena Chaui.
Cenário
Durante quase uma hora de entrevista, a filósofa reconheceu estar preocupada com as eleições de outubro. Disse que, em outros anos eleitorais, no mês de abril; já se sabia com mais clareza quem seriam os candidatos. E quais eram as bases dos programas; situação oposta à de 2018.
O cenário está “bagunçado”, constata. E a população ainda não pensa nas eleições.
— Minha impressão é que houve uma devastação tão grande dos políticos e dos partidos, da credibilidade do Legislativo, que faz com que as eleições pareçam distantes ou nem possam acontecer — acrescenta.
Manifestações
A filósofa e professora da Universidade de São Paulo (USP) define o momento do país como o de “desconstituição da República”, no qual os três poderes disputam a hegemonia e se desqualificam mutuamente. Por um lado, o Executivo e o Legislativo perderam a confiança da sociedade. Na outra ponta, o Judiciário, antes um poder obscuro, agora decide e muda de opinião conforme as circunstâncias e interesses dos seus membros.
— Você sente que há uma espécie de insegurança com o funcionamento da República, porque ela está desfeita — afirma.
Ao longo do programa, a filósofa voltou a fazer considerações sobre as manifestações de junho de 2013. Foi uma época em que milhares de brasileiros saíram às ruas, vestidos com a camisa da seleção brasileira de futebol e bateram panelas. Ajudaram, com isso, a esfacelar a democracia brasileira. Em seguida, o golpe de Estado. Ela recordou ter ficado apavorada com cenas que já prenunciavam o ovo da serpente do fascismo ressurgindo no Brasil.
Individualismo
A professora também abordou a influência da mídia tradicional nos destinos do país. Analisou a “revolução econômica, social e antropológica” causada pelo programa Bolsa Família na região Nordeste. E a concepção neoliberal que vai se firmando na sociedade.
— O neoliberalismo criou a crença no individualismo, onde cada um é responsável pelo próprio sucesso ou fracasso, numa competição extrema. É mais difícil hoje desmontar essa barbaridade do individualismo criado pelo neoliberalismo — ponderou Marilena Chaui.
Além do jornalista Juca Kfouri, o Entre Vistas teve a participação da jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual, e de Júlio César Silva Santos, diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.