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Ambos calvos e miopes, mas… |
Ainda mais, Bonhoeffer era um teólogo erudito, que não se satisfazia com interpretações fáceis e evidentes dos textos bíblicos. Estudioso da teologia de Kart Barth, não deixava de lado Hegel e Max Weber.
Bolsista durante um ano, em Nova York, logo depois da Grande Depressão, descobriu a importância do Evangelho Social ao constatar a miséria em que viviam principalmente os negros estadunidenses.
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…que enorme diferença de postura! |
E o que se sabe sobre o pastor Milton Ribeiro? Alguma semelhança com a resistência de Bonhoeffer ao nazismo de Hitler na Alemanha? Não, nenhuma.
Muito ao contrário. Embora não sejam de hoje as declarações extremistas de direita do ex-deputado federal e do candidato à presidência Jair Bolsonaro, isso não impediu o pastor Milton Ribeiro lhe dar seu apoio na campanha eleitoral. E sabemos que os apoios dos pastores evangélicos em geral equivalem aos de cabos eleitorais.
A recompensa não tardou: Ribeiro foi contemplado com um cargo na Comissão de Ética do governo.
Agora, a cereja em cima do bolo é a atual indicação para cuidar da Educação, sem levar em conta tratar-se de um pastor ultra-conservador e fundamentalista, que não aprovará nenhum projeto, promoção ou atividade artística fora dos rígidos padrões morais puritanos presbiterianos, dignos dos passageiros do Mayflower e das primeiras colônias inglesas na América do Norte.
O Ministério da Educação entrará em plena Idade Média, com o risco de tentar-se modificar a Lei das Diretrizes e Bases da Educação, em vigor desde 1996, que considerou fundamentais valores como estes:
— igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
— consideração com a diversidade étnico-racial.
.Com a quebra do princípio da laicidade e a pressão dos evangélicos, o novo ministro poderá permitir a influência da religião na fixação dos currículos escolares, num tipo de censura velada mas que poderá desvirtuar e corromper todo o programa educacional do Brasil. Foi isso o que ocorreu durante as ditaduras de Franco e Salazar, com prejuízo cultural enorme para Espanha e Portugal.
É evidente que alterada a maneira de se educar, sob pressão religiosa nos princípios pedagógicos, haverá consequências noutra área – na maneira de se propor a cultura ao povo, e isto inclui espetáculos, música, cinema, teatro e literatura.
Caso continue o governo Bolsonaro ou, pior ainda, no caso de uma reeleição, a censura educacional se alastrará e vai repercutir nos programas culturais do Brasil sob o controle de igrejas e pastores, num retrocesso cultural alarmante.
E a influência do privatismo educacional estadunidense poderá chegar às universidades brasileiras, colocando em perigo sua gratuidade, o que tornaria o acesso às universidades um privilégio das classes alta e média.
Do retrocesso educacional ao retrocesso cultura bastará um passo. Haverá queima de livros considerados amorais ou imorais? Quem sabe do que será capaz o novo defensor da verdade e da moral bíblicas…
Haverá apoio à montagem de espetáculo musicais que não sejam gospels? Até onde irá a censura ao teatro, ao cinema e à televisão?
Será punido o ato sexual sem casamento? Em todo caso, reviveremos a época antepassada em que amigar sem casar era malvisto. Num dos quatro vídeos do pastor puritano moralista Ribeiro, só vale sexo no casamento. E a punheta masculina e a masturbação feminina? Sem dúvida levam ao inferno.
Se eu não tivesse visto o vídeo do próprio pastor Milton Ribeiro não acreditaria – p. ex., nos casos de pedofilia, seriam culpadas as vítimas, por provocarem o pedófilo.
Quando sai da ordem moral, o pastor condena o bolsa-família por incentivar a vagabundagem.
Deve haver ainda muitos outros absurdos, suficientes para impedir esse pastor de dirigir um Ministério da Educação, porém um só deles bastaria para os pais e mães saírem às ruas e exigirem a demissão, antes mesmo da posse, dessa figura: é quando Ribeiro nos revolta ao defender com voz de anjo o retorno do castigo corporal nas crianças, talvez influenciado por textos do Velho Testamento.
Ou seja: teremos um ministro contrário ao Estatuto Nacional das Crianças, que, numa igreja, prega para seus fiéis aplicarem corretivo corporal no seu filho ou filha, a fim de andarem no bom caminho.
Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
POR ÚLTIMO, UM ADENDO – Em 1964, por influência do pastor Boanerges Ribeiro, ex-pastor da Igreja Presbiteriana de Santos, logo depois do golpe militar, foi instaurado um Inquérito Policial Militar no Seminário Presbiteriano de Campinas (hoje Seminário do Sul) e no de Recife.