Não se pode parar a construção de democracias

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Publicado terça-feira, 7 de outubro de 2014 as 17:51, por: CdB
Em lugar de privatizar, o governo petista aumentou o número de escolas, fatores da inclusão social e bases da democracia
Em lugar de privatizar, o governo petista aumentou o número de escolas, fatores da inclusão social e bases da democracia

A máquina de construir democracias não pode parar.

Comecei a construir minha noção do que são ditaduras, do que são democracias, na prática das manifestações de rua contra um modelo de governo que parte do Brasil quer retomar.

Minha formação política iniciou-se, na virada do milênio, em bancos escolares do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Lá, aprendi, dentre tantas coisas, que “o direito de um termina quando começa o do outro”.

Dividindo sonhos com colegas e mestres, fui às ruas gritar que “educação não se discute”. Foi nessa época que, pela primeira vez, saiu uma foto minha num jornal. Foi em “O Globo”, ano de 2001. Poucos dias após a queda das Torres Gêmeas, lá estou eu, com meus 16 anos, segurando um cartaz com Paulo Renato, ministro da educação de FHC, vestido de Bin Laden.

Para nós, alunos de um colégio público federal, colégio de excelência, Paulo Renato tratava-se de um ministro terrorista. Queria privatizar a nossa “máquina de construir democracias”, como Anísio Teixeira chamava as escolas públicas de qualidade.

Embora tenha conseguido privatizar muitos outros patrimônios brasileiros, na base de muita corrupção e a preço de banana, FHC não conseguiu privatizar o Colégio Pedro II, CPII. Formei-me lá em 2002. No ano seguinte, eu entrava para faculdade federal e Lula assumia o seu primeiro mandato. De lá para cá – espantem-se os incrédulos – muita coisa mudou.

O CPII, que tinha na minha época cinco unidades localizadas na cidade do Rio de Janeiro, hoje tem oito unidades, sendo duas delas em cidades vizinhas (Duque de Caxias e Niterói). A instituição ganhou, em 2012, o status de Instituto Federal e cada unidade é hoje chamada de Campus, como nas universidades.

E por falar em universidades… O príncipe dos sociólogos não criou nenhuma. O homem que veio do nordeste de pau de arara criou.

Várias máquinas de construir democracias foram criadas em doze anos. E outras tantas foram equipadas. Ouvi outro dia de uma ex-diretora da UFRJ: “não gosto do PT, mas não posso negar que nunca vi chegar tanto recurso como no governo deles”.

Por que, então, não gosta do PT? Tenho certeza de que não pode ser por causa da corrupção, inerente a todos os partidos, sem falar que dados oficiais do TSE mostram que o PSDB vence o PT neste quesito.

O ódio ao PT é muitas vezes inexplicável embora a tendência seja acreditar que o número cada vez maior de catadores de lixo virando doutor, inclusive formados por faculdades particulares, através do PROUNI, incomoda muita gente.

De minha parte, dispenso colocar novamente o PSDB na presidência e sair novamente no Globo segurando cartaz semelhante àquele. Sempre lutei, luto e lutarei para colocar em prática o respeito ao direito do outro de ter a mesma educação que eu tive.

Por isso, torço para que o processo de inclusão social que o Brasil vive há 12 anos não seja interrompido em nome de ódios infundados.

Ana Helena Tavares, jornalista, conhecida por seu site de jornalismo político Quem tem medo da democracia?, com artigos publicados no Observatório da Imprensa e na extinta revista eletrônica Médio Paraíba. Foi assessora de imprensa e repórter dos Sindicatos dos Policiais Civis e dos Vigilantes. Universitária, entrevistou numerosas pessoas que resistiram à ditadura e seus relatos (alguns reproduzidos na Carta Capital e Brasil de Fato) serão publicados brevemente num livro.

Direto da Redação é um fórum de debates, editado pelo jornalista Rui Martins.