Aos 96 anos, ele ainda visita o canteiro de suas obras. O arquiteto Oscar Niemeyer percorreu nesta terça-feira o esqueleto do que será o auditório do Parque do Ibirapuera, acompanhado da prefeita Marta Suplicy (PT). Subiu e desceu longas escadas, sujou os sapatos de poeira e praticamente recusou o capacete protetor.
“Eu sempre visito minhas obras”, disse ele ao séquito de jornalistas que o acompanharam na empreitada. O Auditório Ibirapuera será entregue à cidade de São Paulo 50 anos depois de ter sido projetado. Fazia parte do parque desenhado por Niemeyer e inaugurado em 1954, quando a cidade completou 400 anos.
O projeto atual foi modificado pelo arquiteto, um dos mais respeitados da atualidade. “É uma solução mais econômica. Está muito bem no conjunto. Tem unidade. Funciona bem com a cúpula do lado (a Oca). São duas formas puras de arquitetura”, explicou.
Ele agradeceu a prefeita Marta “que compreendeu a importância para a cidade. Uma coisa que ficou rolando tantos anos…” E chegou a dar seu apoio à candidatura à reeleição da prefeita. “Seria uma solução muito boa para São Paulo”.
O auditório, que está sendo construído em parceria com a empresa TIM, terá 840 lugares, custará 20 milhões de reais e estará pronto antes do fim do ano.
Niemeyer quer modificar uma parte da marquise do parque para liberar a praça diante do novo auditório, mas a mudança ainda está sendo analisada por órgãos do patrimônio, que pode concordar ou vetar a alteração.
“Seria um ato arbitrário impedir o próprio arquiteto de modificar sua obra”, disse o secretário municipal de Cultura, Celso Frateschi.
Antes de visitar o auditório, Niemeyer recebeu o título de cidadão paulistano em sessão especial da Câmara de Vereadores realizada no Memorial da América Latina, obra criada por ele, assim como o edifício Copan.
Na cerimônia, era difícil saber quem estava mais emocionado, se o homenageado, as autoridades ou platéia formada por estudantes de arquitetura.
Paulo Sophia, presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil, sessão São Paulo, resumiu o sentimento que permeava o ambiente: “Nunca imaginei estar aqui tão pertinho de você, Oscar, podendo tocá-lo”. Ele lembrou uma das máximas do arquiteto: “A arquitetura não é importante. O importante é o homem.”
O ministro José Dirceu (Casa Civil), também presente, preferiu o tom político. “Para nós, que fazemos da política uma profissão de fé, uma crença, Niemeyer é daqueles que nunca mudou de lado. Mudou, mas não de lado. Sempre foi fiel a seus ideais, que são os nossos”, referindo-se à ativa militância de esquerda de Niemeyer.
Sobre ser cidadão paulistano, Niemeyer reagiu: “Fiquei muito contente… Somos brasileiros. Estamos aí para defender o país de tanta coisa contra nesse mundo de dinheiro que a gente conhece”.