Quando se observa mais de perto A Ronda Noturna, o mais famoso quadro de Rembrandt van Rijn, percebe-se que um tiro é disparado ao fundo.
– Um assassinato é cometido, e todos os matadores estão na tela – sugere o diretor britânico Peter Greenaway, que apresentará essa interpretação pessoal do quadro em seu novo filme, Nightwatching (fazendo a ronda noturna), uma mirada pouco ortodoxa sobre a vida e a obra desse que é provavelmente o pintor mais famoso da Holanda.
O filme poderia ser descrito como uma incursão pelo Código de Rembrandt. Nightwatching começa a ser rodado em agosto, na Polônia, onde a casa de Rembrandt foi recriada. A partir dali, a produção de 8 milhões de dólares deve passar para o País de Gales e para a Holanda.
Depois de uma longa busca, o produtor Kees Kasander encontrou seu ator principal no inglês Martin Freeman, mais conhecido por seu trabalho na série cômica de TV The Office (o escritório), da rede BBC. Kasander tinha esperanças de convencer Philip Seymour Hoffman a interpretar o papel, mas o ator vencedor do Oscar recusou o convite afirmando que não desejava um papel biográfico pouco depois de ter participado de Capote.
O produtor encontrou um outro problema ao escolher o ator principal.
– Peter apresentará Rembrandt como um homem de carne e osso. Então, haverá algum grau de nudez masculina no filme. Minha experiência diz que muitos atores enfrentam problemas ao atuar nus diante das câmeras – afirmou.
Kasander disse ainda estar feliz com a escolha de Freeman.
– Sei que ele é desconhecido para uma grande parte do público, mas isso é uma vantagem – disse. Sarah Poley deve interpretar a mulher do pintor, Saskia. Minnie Driver, Mathew Modine e Sam Neill também integram o elenco.
Com previsão de estréia para o Festival de Cannes do próximo ano, o filme de Greenaway chegará tarde demais para beneficiar-se das comemorações pelos 400 anos do nascimento de Rembrandt, que veio ao mundo no dia 15 de julho de 1606. Holanda depara-se com uma invasão de turistas, e ao menos 1,5 milhão de visitantes devem chegar a Leiden e a Amsterdã, as duas cidades onde o pintor passou a maior parte de sua vida.
Os turistas podem escolher entre mais de 20 exibições relacionadas com o artista, dezenas de passeios e excursões, mais dois musicais sobre o pintor e sua vibrante vida pessoal, um deles com tradução para o japonês. Entre as atrações há uma instalação feita pelo próprio Greenaway, também batizada Nightwatching, na qual apresenta sua interpretação sobre a pintura.
Usando o quadro original, no Rijksmuseum, em Amsterdã, e efeitos de iluminação e de som, o diretor sugere quem é morto, por que, como e por quem.
– Rembrandt é um tipo de Sherlock Holmes aqui – disse Greenaway.
– O Nightwatch poderia ser visto como um episódio do CSI ou como uma história do tipo Assassinato no Expresso Oriente – disse.