Nível do Rio Solimões começa a subir e anuncia o fim da seca

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Publicado quinta-feira, 20 de outubro de 2005 as 12:11, por: CdB

O nível do Rio Solimões em Tabatinga (AM), na fronteira com o Peru e a Colômbia, já começou a subir, mas o porto da cidade deverá voltar a funcionar em 15 dias, constatou Jaime Azevedo da Silva, conferente de carga da Sociedade de Navegação, Portos e Hidrovias do Amazonas (SNPH), nesta quinta-feira. Ele é uma das 302 pessoas que diariamente medem o nível dos rios da Bacia Amazônica – a cada três meses, os dados são reunidos e tabulados pelos técnicos do Departamento de Hidrologia do Serviço Geológico do Brasil (antiga Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, ainda conhecido pela sigla CPRM).

– De segunda para terça-feira, o rio subiu 0,31 centímetros. Mas ele ainda estava em 1,91 metros, cerca de 5 metros abaixo do que é o normal para esta época do ano – disse.

Izidoro de Araújo Maquini é despachante marítimo e fluvial e presta serviço a uma empresa de Iquitos, no Peru. Diariamente ele telefona para aquele país para saber o nível do Rio Marañon (nome do Rio Solimões quando ele nasce, no país vizinho, a partir do desgelo dos Andes).

– Há 12 dias o nível do Rio Marañon está aumentando cerca de 5 centímetros por dia – contou.

No dia 16 de setembro, a prefeitura de Tabatinga teve que interditar o porto flutuante da cidade, que chegou a ficar em terra firme. Do porto municipal interditado, é possível ver o barranco que agora serve como ancoradouro. Quando chove, segundo Jaime, a lama deixa praticamente impossível transportar as mercadorias até os barcos.

Entretanto, algumas pessoas ainda pescam no Rio Solimões, que mais parece um grande lago. O pintor de carros Josué Gomes do Nascimento pesca curimatãs, peixe regional pequeno, que custa em média R$ 5,00 nas feiras da cidade:

– Com a seca, está mais fácil pescar aqui. Eu pego esse peixe para comer mesmo, assim a gente economiza.

Tabatinga é um dos 61 municípios do interior do Amazonas em estado de calamidade pública, por causa da seca forte e prolongada que atinge o estado.

Estiagem

Manaus, capital do Amazonas, e todo leste do Estado sofrem a estiagem mais severa dos últimos 103 anos. Esse é o cálculo do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Carlos Nobre. De acordo com ele, a região oeste também apresenta os menores índices pluviométricos dos últimos 60 anos.

– No que concerne ao Rio Negro, em Manaus, esta é uma seca que só tem paralelo nos últimos 103 anos. Ou seja, desde 1902, quando iniciamos registros de nível do Rio Negro. Já no oeste da Amazônia, esta é a estiagem mais severa dos últimos 50, 60 anos – estima.

Nobre explica que a seca ocorre por três fatores: aquecimento do Oceano Atlântico, redução da transpiração das árvores e a fumaça produzida pelas queimadas.

– A principal razão é o aquecimento do Oceano Tropical Norte, que está mais quente que a média em até dois graus. Essa água induz muitas chuvas na região e também um movimento ascendente, comum em locais com muita chuva. E tudo o que sobe tem que descer. Esse ar, que desce sobre a Amazônia, dificulta a formação de chuvas. Isso explica a grande extensão, severidade e duração desta seca bastante atípica – explica.

Os dois outros fatores são menos importantes para determinar a intensidade da seca, segundo o pesquisador. Ele afirma que estiagens prolongadas reduzem a transpiração das plantas, o que diminui a reciclagem da água. Carlos Nobre relata ainda que o desmatamento existe em 17% da Amazônia brasileira “de forma bem distribuída”.

No entanto, ele ressalta que há estudos que mostram que a fumaça das queimadas “pode, também, dificultar a formação das chuvas no fim do período seco”.