Nordeste busca novo modelo para combater exclusão

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Publicado Sexta, 03 de Dezembro de 2004 às 07:55, por: CdB

A estrutura econômica baseada no plantio do algodão e na pecuária de gado, que durante séculos caracterizou o modelo de desenvolvimento do Nordeste brasileiro, ruiu nos anos 80 sem dar conta, mesmo em seu período de maior prosperidade, daquele que sempre foi o grande problema da região: a exclusão social. Em anos bons, de chuva, a população do semi-árido conseguia produzir algum tipo de riqueza; mas nunca foi capaz de acumulá-la. E então, quando vinha o ano ruim, vinha junto a miséria trazida pela seca.

Ao ruir na década de 80, o modelo hegemônico da bovinocultura e da produção de algodão permitiu que outras saídas fossem pensadas para o Nordeste, dentro de uma lógica em que não se trata de lutar contra a seca, mas de se garantir uma convivência com o semi-árido - terra de 40% da população da região, mas de apenas 20% de sua produção. Hoje a caprinocultura passou a ser valorizada ao provar que, na cadeia produtiva, possui mais valor agregado do que a bovinocultura. Em paralelo, a produção de mel, antes ignorada, colocou o Nordeste brasileiro no mercado mundial de comércio do produto. São apenas dois exemplos de uma nova cara defendida e vislumbrada para o Nordeste no século XXI.

Feita pela economista Tânia Bacelar, professora da Universidade Federal de Pernambuco e uma das maiores especialistas em desenvolvimento regional do país - além de um extenso currículo na área política e social, Tânia coordenou um grupo de trabalho criado pelo presidente Lula para a recriação da Sudene, a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste -, a análise acima é compartilhada por diversos "pensadores" e tem sido, cada vez mais, defendida pela sociedade civil organizada e por movimentos populares dos nove Estados da região. Um novo modelo de desenvolvimento para o Nordeste foi, recentemente, um dos grandes eixos temáticos do Fórum Social Nordestino (FSNE), realizado em Recife na última semana, que reuniu mais de 8 mil pessoas num espaço de articulação e busca de alternativas aos principais desafios locais.

Em sua conferência no FSNE, Tânia Bacelar traçou um panorama dos maiores obstáculos à construção de um modelo de desenvolvimento para o nordeste que, a partir da tomada de consciência de seu potencial, permita que a região ande com os próprios pés, sob a ordem de sua própria cabeça. "A gente não se dá conta da força que tem e tende a se submeter e a dizer sim quando devemos dizer não. É uma herança da inserção submissa que não passa só pela economia, mas também na cabeça do nordestino ao lidar com o outro. É difícil lidar com a submissão à região mais rica do país.

O imaginário brasileiro tem uma visão distorcida da nossa região, que não é o do Nordeste potencial", acredita a economista. "É difícil mudar esta visão porque o discurso do Nordeste coitado e dependente é feito pela própria elite nordestina, que aprendeu a se apropriar disso com uma maestria fantástica para tirar vantagem desta situação. Quando coordenei o grupo de trabalho para recriar a Sudene, vi como os recursos destinados ao Nordeste eram partilhados entre os governadores. Cada um queria se salvar o seu. Agindo assim, eles negaram essa visão de nordeste para a qual este Fórum está dizendo sim. A prepotência da elite nordestina é algo inimaginável no século XXI", avalia.

Outro obstáculo à derrubada da visão do Nordeste dependente e vitimizado é a própria marca do desenvolvimento do Brasil como um todo. Na opinião da professora, a inserção submissa do Brasil no mercado internacional, que teria começado há cinco séculos no Nordeste, deixou uma marca colonial na elite política e acadêmica do país que hoje transparece numa dificuldade em pensar a realidade do Brasil e numa facilidade para reproduzir teorias e práticas não desenvolvidas dentro do país.

Por fim, a última barreira seria a entrada do Nordeste no padrão do capitalismo nacional, onde a riqueza é gerada na esfera financeira do capital, e não na produtiva. "O Nordes

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