O (des)governo de Trump vai acabar mal

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Publicado Segunda, 27 de Março de 2017 às 12:43, por: CdB

Em menos de cem dias de governo, Donald Trump tem se mostrado exatamente o que eu e muitos outros dele esperavam: trata-se de um completo demagogo e vigarista despreparado para o cargo.

Por José Inácio Werneck, de Bristol, EUA:

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Trump tem inimigos até entre os republicanos

Os leitores que tem seguido artigos anteriores (e os que não seguiram podem ir ao arquivo) sabem que não me inscrevo entre os fãs de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos.

Na verdade, os Estados Unidos passaram de líder incontestável do Mundo Ocidental a pária do Mundo Ocidental em curtíssimo espaço de tempo

Em menos de cem dias de governo, Donald Trump tem se mostrado exatamente o que eu e muitos outros dele esperavam: trata-se de um completo demagogo e vigarista despreparado para o cargo.

Ele chegou ao posto porque os Estados Unidos, embora se afirmem uma democracia, tem um sistema de governo baseado no Colégio Eleitoral. No últimos 16 anos tal sistema permtiu colocar na Casa Branca dois candidatos que perderam a eleição popular: George W. Bush (com a indispensável colaboração da Suprema Corte, que se recusou a recontar os votos da Flórda) e Donald Trump.

Bush, o presidente de araque, nos deu a Guerra do Iraque. Qual será o legado de Trump?

O Colégio Eleitoral tem sua origem num arreglo do século XVIII que permitia aos Estados do sul do país, onde imperava a escravidão. contar como “3/5 de um ser humano” os seus escravos. Isto lhes dava peso na votação (embora os escravos fossem proibidos de votar), para contrabalançar o maior número de habitantes dos Estados do norte, onde não havia escravidão.

Graças a esta arrumação indecorosa, Estados rurais, conservadores, tem uma importância desproporcional na escolha do presidente da República.

Não tenho dúvida alguma de que o governo Trump será um imenso fracasso e uma indicação clara veio com o malogro de sua tentativa de abolir o plano de saúde de seu antecessor, conhecido como Obamacare.

O plano aprovado pelo governo de Barack Obama está longe de ser ideal, mas foi, em muitas e muitas décadas, o primeiro passo na direção de um Sistema Nacional de Saúde, a exemplo do que existe em países europeus, como o Reino Unido, a Alemanha, a França e a Suíça (entre outros) - mas que os americanos conservadores veem como ideias socialistas, próximas do comunismo.

O projeto de lei de Trump para substituir o Obamacare fracassou porque era uma inequívoca manobra para transferir recursos da classe média e pobre para a classe rica.

Era uma traição tão descarada aos iludidos eleitores de Donald Trump - que se veriam privados de benefícios enquanto os ricos pagariam menos impostos - que membros do próprio Partido Republicano, com medo das eleições para o Congresso no ano que vem, se recusaram a endossá-lo.

Isto porém não representará o fim de tentativas semelhantes por parte de Trump e de seus seguidores mais reacionários, xenófobos e racistas, que já começaram a sair em passeatas nas ruas de algumas cidades, como Nova York e Los Angeles.

A tática de Trump, apoiada por tais manifestantes, é clara: já que não conseguir abolir o Obamacare, seu governo vai sabotá-lo, tornando impossível seu funcionamento.

Coisas assim e piores - em relações trabalhistas, proteção ao meio-ambiente, regulamentação financeira, direitos de minorias e imigrantes - continuarão a ser tentadas pelo governo Donald Trump.

O mundo assiste horrorizado ao que se passa nos Estados Unidos e temo que, ao fim de mais um ou dois anos de caos, Donald Trump vá recorrer à receita sempre à mão para os demagogos de seu tipo: o apelo fácil ao “patriotismo”, com a invasão de um país estrangeiro.

“O patriotismo” - já ensinava Samuel Johnson - “é o derradeiro refúgio dos calhordas”.

O Iraque e o Afeganistão não são mais a bola da vez pois, afinal, não precisam mais ser invadidos. Já foram e a invasão continua. Mas há outros candidatos na fila.

O grande perigo é que, no meio de mais uma destas aventuras, de repente, por negligência ou má sorte, armas nucleares entrem em ação.

José Inácio Werneck , jornalista e escritor com passagem em órgãos de comunicação no Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. Publicou “Com Esperança no Coração: Os imigrantes brasileiros nos Estados Unidos”, estudo sociológico, e “Sabor de Mar”, novela. É intérprete judicial do Estado de Connecticut. Trabalha na ESPN e na Gazeta Esportiva.

Direto da Redação é um fórum de debates, editado pelo jornalista Rui Martins.

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