Jada está tragicamente espremida entre uma Academia que se diversifica na superfície, mas que celebra homens negros ridicularizando situações dolorosas que atravessam as vidas de mulheres negras e permite que nós nos embatamos em público para a diversão dos salões da branquidade.
Por Dani Balbi - do Rio de Janeiro
Jada Smith é uma atriz, apresentadora e produtora norte-americana de sucesso. Como mulher negra, sua capacidade, competência e suas realizações sempre estiveram à sombra de camadas de exotificações que impactam objetivamente o alcance e a estabilização de sua carreira. Como se fosse pouco, nos últimos anos Jada foi acometida por uma alopecia, uma condição dermatológica que acarreta a perda de cabelo no couro cabeludo; corajosa como sempre e sem outra alternativa que não a força, ela assumiu a careca com a dignidade de poucos. Não esqueçamos que estamos tratando de uma mulher negra em um país que se construir pela segregação racial. Pois bem. E o que Jada Smith fazia ali, no Oscar?Espremida entre uma Academia
Enquanto mulher negra trabalhadora da indústria do entretenimento, Jada está tragicamente espremida entre uma Academia que se diversifica na superfície, mas que celebra homens negros ridicularizando situações dolorosas que atravessam as vidas de mulheres negras e permite que nós nos embatamos em público para a diversão dos salões da branquidade; Jada é a acompanhante sem indicações de seu marido, companheiro e amigo que formou uma família e construiu cotidianamente mecanismos de resistência ao seu lado, mas sabe que ela é capturada em sua força por uma estrutura machista e misógina que ameaça a sua própria reação; espera-se que Jada sorria das ofensas contra si com ternura, suporte o companheiro, aplauda a glória dos “gênios” do cinema e se cale. Para um cinema plural, uma cerimônia melhor e uma experiência estética que valha a pena, é importante que assistamos, ouçamos e aplaudamos mais Jadas como protagonistas reais de todo o processo, e não como peças decorativas.Dani Balbi, é mulher, negra, transexual e comunista, é Doutora em Ciência da Literatura (Literatura Comparada) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), professora da Escola de Comunicação Social (ECO-UFRJ) e da EJA- Manguinhos. Roteirista, crítica de teatro e cinema e militante da cultura, é diretora da UNALGBT, Assessora Parlamentar da Comissão de Promoção de Direitos das Mulheres da ALERJ e filiada à UNEGRO.
As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil