Como é bom manter a prudência, devemos esperar o encerramento das apurações, a fim de saber se o presidente Lula será ou não eleito no primeiro turno, neste domingo. Discutia-se, sexta-feira, se ele fez bem, ou não, em comparecer ao debate realizado nos estúdios da maior emissora de televisão do país. Todas as decisões desta natureza são arriscadas. Se Lula comparecesse, perderia; se não comparecesse, perderia também.
Se comparecesse, estaria confrontando-se a uma coligação ocasional de todos os outros candidatos com o propósito de o acossar. Foi uma decisão pessoal, como pessoal foi a decisão de Aécio Neves em não comparecer ao debate com seu adversário Nilmário Miranda. Tanto assim que o governador de Minas, ao ser interpelado pelos jornalistas, disse que Lula agira de acordo com sua consciência, e deve ser respeitado em sua decisão.
Os candidatos que se encontram bem colocados nas pesquisas costumam esquivar-se desses confrontos, que nada podem acrescentar ao seu desempenho. Relembre-se que Fernando Henrique também não compareceu a debates para os quais foi convidado. Mas não foi em razão disso que Lula deixou de comparecer. Com certeza ele ganharia o debate, já que dispõe de números contra o desempenho de seus opositores – por oito anos no governo federal, e por doze anos no Estado de São Paulo – que os esmagaria.
Mas Lula parece preocupado com a governabilidade do País, e não desejar que o clima de confronto chegue a um ponto sem volta, como querem, entre outros, Fernando Henrique. Para o ex-presidente, hoje gozando do ócio, o dilúvio seria a glória.
Mais do que o debate em si, o que alguns de seus conselheiros temiam era a edição da matéria pelos noticiários da televisão. Lembro-me, e muito bem, do que foi o debate de 1989, entre o atual presidente e Fernando Collor, pela Rede Globo. Assisti ao debate em companhia de Pimenta da Veiga – que então apoiava Lula – e ambos, veteranos no acompanhamento dos fatos políticos , concluímos que Lula havia vencido a disputa, não obstante as terríveis pressões emocionais daquelas horas.
Mas, no dia seguinte, a versão do debate, com sua edição, depois confessadamente manipulada por conhecidos jornalistas da emissora, fez do claro, escuro, ao suprimir frases, desviá-las de seu contexto, explorar as imagens, cortá-las, mesclá-las. Lula foi visto como um pobre coitado, acabrunhado, diante de um Collor flamejante, inteligente e – quem diria? – irretocável moralista. Essa manipulação foi decisiva para que Lula perdesse aquela eleição.
Ficou muito claro, nesta etapa final da campanha, que os inimigos não descansam, nem mandam flores. Os tucanos, que não explicaram, nem nunca explicarão o que fizeram do patrimônio nacional, nem os casos conhecidos e evidentes de corrupção e de desvio de dinheiro do Estado, durante os oito anos de Fernando Henrique, valem-se de episódios, ainda não muito esclarecidos, que estão sendo investigados pela Polícia Federal, por iniciativa do próprio governo, para tentar desmoralizar o atual Presidente da República.
Já é notório que todos os casos clamorosos ocorridos no âmbito do Ministério da Saúde começaram no governo anterior, tanto assim que a imensa maioria das ambulâncias superfaturadas foram fornecidas pela Planam antes do atual mandato, e que o maior número de prefeituras envolvidas (128) eram, ou são, do PSDB.
O mais grave foi a violação do segredo de justiça e a divulgação das fotos do dinheiro apreendido (cuja origem ainda não foi identificada). Confirmou-se, no episódio, o facciosismo do TSE, ao permitir essa divulgação, com notórios fins de confusão da opinião pública, além de haver notificado apenas uma parte dos envolvidos, preservando os ligados ao PSDB, como o Sr. Abel Pereira.
Lula cometeu erros políticos lamentáveis ao imaginar que a vitória de há quatro anos era sobretudo a de seu grupo do ABC, aos quais se juntaram, em sua ascensão política, recém-chegados de todas as proce