Octavio Ianni

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Publicado Segunda, 12 de Abril de 2004 às 06:41, por: CdB

Octavio Ianni nos deixou neste último domingo, 4 de abril. Pertencia à geração que sistematizou a sociologia no Brasil, fazendo-a ir muito mais além de comentários abalizados sobre a situação social e a formação da sociedade brasileira, transformando-a em uma verdadeira ciência social. A partir deste salto, a trajetória de profissionalização das ciências humanas, no sentido de Weber, seguiu em carreira ascendente, com a formalização e institucionalização das pós-graduações.

Octavio foi um grande professor. Apaixonado pela universidade, deu aula até duas semanas antes de morrer. Aposentado da Universidade de São Paulo (USP) pelo AI-5, foi para a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), onde formou, junto com seu mestre Florestan, Maurício Tragtenberg, Carmen Junqueira e muitos outros, um excelente curso de Ciências Sociais e sua pós-graduação, que cresceu e hoje mui justamente coloca-se entre os melhores do Brasil. Voltando à universidade pública, por convite do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, ficou lá até sua aposentadoria compulsória, há dois anos, com a qual não se conformava. Foi então professor-visitante na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e voltou uma vez mais à Unicamp, também como professor-visitante, na faina incansável de formar novas gerações de cientistas sociais. Sua universidade matriz, a USP, por sua Faculdade de Filosofia, reconheceu-lhe a importância dando-lhe o título de professor emérito. Em seu enterro na cidade de Itu, onde nasceu, viu-se parte de sua influência e sua herança: os colegas da Unicamp das ciências sociais estavam lá em peso, e muitos também da sua original Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

Na divisão intelectual de trabalho patrocinada por Florestan, dedicou-se inicialmente ao estudo das relações raciais no Brasil, e à sua compreensão numa sociedade de castas que se transformava em uma sociedade de classes, em que o estigma racial funcionalizava-se como auxiliar da exploração. Depois, enveredou pelos estudos do desenvolvimento capitalista, na chave sociológica do subdesenvolvimento, inclusive a da formação dos aparelhos de planejamento no Estado brasileiro, percebendo, desde logo, que os mesmos faziam parte estrutural do movimento do capitalismo, não sendo apenas desvios retóricos.

Sua produção logrou também interrogar as várias formas políticas na América Latina, nos países de maior desenvolvimento capitalista, e a peculiar forma de inserção do proletariado na arena política, que a sociologia de São Paulo estudou conceitualmente sob a ótica do populismo. O conhecimento historiográfico e sociológico posterior aconselham a uma revisão da caracterização protofascista do populismo, mas fica, sem dúvida, o esforço teórico para compreender uma forma própria da política de classes na periferia capitalista.

Sua última fase de produção, já há mais de dez anos, dedicou-a à investigação dos fenômenos e dinâmica da mudança global capitalista, sobre a qual exerceu seu conhecido senso crítico, sem deixar de anotar a nova importância das formas "globais" que, de certo modo, nos projeta a todos para além das dimensões de nossas províncias nacionais, e redefine quase todas as questões.

O número de seus alunos é quase incalculável, e a de seus orientandos é também avantajada, além das bancas de mestrado, doutorado, livre-docência e professor titular de que participou. Muitos lhe devem sua entrada na universidade, não por procedimentos patrimonalistas, mas pelo incentivo e decisiva crítica nas bancas de exame. Seria longa a lista dos serviços que prestou à universidade pública brasileira.

A discussão da sua obra será constante e não se esgotaria num artigo que se inscreve nesse reconhecimento, além de ser também um penhorado agradecimento a quem me ajudou a entrar no mundo acadêmico de São Paulo e do Brasil, levando-me em 1970 para o Cebrap, para trabalhar num projeto de pesquisa s

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