Ofereça livros para combater a ignorância

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Publicado Segunda, 14 de Dezembro de 2020 às 17:50, por: CdB

O Brasil retrocede e segue a trilha das trevas. Hoje voltamos ao período da inquisição e dos governos fascistas e nazistas onde educação e cultura representam uma ameaça.

Por Marilza de Melo Foucher - de Paris
O Poder Executivo, sob o comando supremo da ignorância, retira incentivos da cultura e busca limitar o acesso a livros, dando preferência às armas. Sem estímulo fiscal, as editoras brasileiras que já vivem em dificuldade serão aniquiladas. Infelizmente, não existem mais mecenas para fazer doações, pois o vírus da ignorância se espalha pelo Brasil. A grande mídia comercial, cega pelo antipetismo primário, é incapaz de comparar este momento com aquele dos governos de Lula e Dilma, que tanto fizeram pela cultura.
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Nas mãos de um trabalhador, o livro significa a transcendência do atual estado de barbárie infligido por um governo que isenta armas de imposto e pune as editoras
Naquela época, os brasileiros eram mais ativos e sempre exigiam mais do governo: tinham sede de saber! E hoje? O que acontece? O Brasil retrocede e segue a trilha das trevas. Hoje voltamos ao período da inquisição e dos governos fascistas e nazistas onde educação e cultura representam uma ameaça. Que bom se cada intelectual, escritor, artista e empresário brasileiro que dispõe de recursos financeiros, pudesse fazer como Federico Garcia Lorca e oferecer uma biblioteca a seu lugar de origem, como fez o espanhol em Fuente Vaqueros, onde nasceu. Na inauguração, fez um discurso belíssimo que reli recentemente, pregando o combate à ignorância. Somente com manifestações culturais e livros acessíveis se pode realizar uma grande luta contra a ignorância. Ofensiva que, declarou Lorca em seu discurso, “deve ser continuada com calor real, porque a ignorância é terrível e já sabemos que onde há ignorância é muito fácil confundir o mal com o bem e a verdade com a mentira”. Vamos lembrar do exemplo de Lula, uma pessoa humilde, um combatente que não teve a oportunidade de frequentar a escola, pois precisou trabalhar desde criança para escapar da fome. Pois bem, esse personagem pobre e simples chegou à Presidência do Brasil, em 2003, e ofereceu aos brasileiros o que não pode ter: acesso à educação, cultura, leitura e lazer.

Oportunidades

As políticas públicas dos governos Lula e Dilma para a leitura, os livros e as biblioteca eram discutidas, construídas e avaliadas por todo o segmento da denominada cadeia produtiva do livro, bem como por amplos setores da sociedade, em um período de convivência democrática na diversidade. Existia um clamor de parte da sociedade civil expresso sob a forma de “quero mais”, exigindo uma implementação imediata de medidas educativas e culturais. O embate com o poder legislativo era forte. Muitos parlamentares da oposição pensavam que investir na cultura era luxo. Mesmo assim, houve nesse período uma efervescência da cultura nacional. Vale registrar algumas ações estruturantes: implantação do Sistema Nacional de Cultura, aprovação do Plano Nacional de Cultura, reformulação da lei de direitos autorais, reformulação da lei de incentivo à cultura e construção do Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais - pilares de sustentação de um novo projeto político para a área. A Lei do Livro foi criada em 2006; o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) foi um avanço em um país de poucos leitores. Mas, como tudo que é ligado à cultura, o impacto não pode ser avaliado a curto prazo. Esse tipo de política pública exige continuidade. Por essa razão, a administração Lula continuou o que fora iniciado no governo anterior, dando maior impulso e abrindo novas oportunidades às camadas pobres, discriminadas e invisíveis da população brasileira. Sabe-se que o processo de inclusão cultural é lento, ainda mais em uma sociedade onde vigora o preconceito de que pobre, negro e índio não podem ter o mesmo acesso aos bens culturais. Os livros não podem ser artigo de luxo. Em um contexto de desigualdade sociocultural é necessário um incentivo permanente à leitura, com o objetivo de ampliar o interesse da população pelos livros.

A televisão

É inegável que os governos Lula e o primeiro mandato de Dilma representaram uma tentativa de avançar nas políticas para o setor cultural, partindo do princípio de que a cultura é um direito de todos e não uma mercadoria. Pela primeira vez houve uma estratégia para articular o conjunto das ações realizadas pelo Estado, pelas empresas e pela sociedade civil organizada. Vale registrar que o governo federal criou também o Programa Fome de Livro. Em sintonia com o Plano Ibero-americano de Leitura, este programa estabeleceu o ano de 2005 como o ano do livro e da leitura e institui a marca VIVALEITURA. De acordo com Machado (2010), em decorrência dessa ação surgiu, capitaneado pelo MinC, o Programa Nacional do Livro e da Leitura (PNLL), cuja intenção era constituir uma política de Estado para a área de bibliotecas. O que acho estranho é o silêncio de uma elite que se diz cultivada perante o massacre educacional e cultural do Brasil. Silêncio também mantido pela grande mídia comercial que por questões ideológicas não reconhece os benefícios trazidos pelos governos petistas à cultura brasileira. Uma cegueira antipetista que prefere ver a morte da política de educação e cultura em vez de combater o fascismo que assola o país. Falta coragem para assumir a verdade e explicitá-la. É urgente restaurar a memória do povo brasileiro. Os governos petistas não destruíram o Brasil. Quem o está destruindo é a ideologia fascista difundida pelo governo Bolsonaro, que chegou ao poder graças à elite brasileira. Lembremos da expressão de Victor Hugo: a liberdade começa onde a ignorância acaba. Concluo com uma citação do grande escritor italiano Umberto Eco que retrata bem a relação com a cultura hoje da maioria dos brasileiros: A televisão torna inteligentes as pessoas que não têm acesso à cultura e embrutece aqueles que se julgam cultos. Marilza de Melo Foucher é economista, jornalista e correspondente do Correio do Brasil, em Paris.
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