O representante para a América Latina do Centro Simon Wiesenthal, uma organização judaica de defesa dos direitos humanos, chegou na segunda-feira a Brasília para monitorar a primeira cúpula árabe-sul-americana e para pedir aos países da região que não “dêem seu aval” à atuação de grupos extremistas.
– Não temos nenhuma objeção a vínculos comerciais que possam colaborar para que a América do Sul cresça, mas o preço disso não pode ser a avalização da atividade de grupos terroristas. Viajamos porque acreditamos que é importante alertar para esse risco – disse Sergio Widder numa entrevista à Reuters.
Governantes de 12 países sul-americanos se reunirão a partir de terça-feira em Brasília com líderes de cerca de 20 países árabes, numa cúpula inédita promovida pelo Brasil para incentivar o comércio e os investimentos entre as duas regiões em desenvolvimento, que mantêm poucos contatos.
Mas a declaração final da cúpula, segundo fontes brasileiras, também incluirá referências “genéricas” à situação do Oriente Médio e à política de Israel.
Na semana passada, o secretário-geral da Liga Árabe, Amre Moussa, afirmou que “é sempre preciso criticar Israel”, quando questionado se o Estado judaico seria criticado na reunião.
Segundo o Centro Simon Wiesenthal e os rascunhos da declaração que circularam em Brasília, o texto a ser assinado pelos governantes na quarta-feira, no encerramento da cúpula, pode definir o “crime terrorista” e diferenciá-lo “do direito legítimo à resistência contra a ocupação estrangeira”.
Preocupado com essa possibilidade, o centro pediu em cartas aos chanceleres da América do Sul que não assinem uma declaração “com linguagem ambígua, que pode ser interpretada como um aval a grupos extremistas”, afirmou Widder.
A América do Sul registrou um intercâmbio comercial com o mundo árabe de pouco mais de 10 bilhões de dólares em 2004. Fontes brasileiras afirmam que esse montante pode crescer cerca de 50 por cento este ano, passando a 15 bilhões de dólares. Um evento paralelo à cúpula de chefes de Estado reunirá centenas de empresários de ambas as regiões.
Widder lembrou que a América do Sul “já sofreu e continua sofrendo com o terrorismo em alguns países”, mencionando a Argentina, onde atentados anti-semitas mataram dezenas de pessoas em 1992 e 1994, e a Colômbia, que estará representada no Brasil por seu vice-presidente.
Ele também citou a região da Tríplice Fronteira, “onde persistem suspeitas de que a atividade econômica financie grupos extremistas no Oriente Médio”.
O porto chileno de Iquique também é suspeito de ser fonte de financiamento para militantes do Oriente Médio, afirmou.
O representante do Centro Wiesenthal prometeu “protestar energicamente” se a reunião aprovar uma declaração “de linguagem ambígua”.
ONG judaica pede que América do Sul não dê aval a extremistas
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Publicado segunda-feira, 9 de maio de 2005 as 15:25, por: CdB