A poucas horas do final da campanha eleitoral, nesta quinta-feira, os candidatos da oposição à Presidência do Chile acertaram uma aliança, já pensando no segundo turno do pleito. O empresário Sebastián Piñera, do RN, e Joaquín Lavín, da UDI, fizeram um “acordo de cavalheiros”, como confirmou o cientista político Manuel Antonio Garretón, da Universidade do Chile. Os dois, definidos como representantes da direita, estão na expectativa de que a ex-ministra da Saúde e da Defesa Michelle Bachelet, líder nas pesquisas de opinião, não vencerá as eleições deste domingo.
-O sentimento geral dos chilenos e nos comandos das campanhas é o de que haverá segundo turno, mas ainda tenho minhas dúvidas – disse Garretón.
Ele acredita que a candidata socialista, que tem o apoio do presidente Ricardo Lagos, também socialista, reunirá os votos necessários (50% mais um) para assumir o Palácio presidencial de La Moneda, em março de 2006.
Na quarta-feira à noite, quando se preparava para entrar no palco de seu último comício, no Estádio Nacional, na capital chilena, o presidenciável Joaquín Lavín disse :
– Vai haver segundo turno. E será entre Michelle Bachelet e Joaquín Lavín.
Quando perguntado sobre a informação, divulgada pela imprensa chilena, de que pretende formar uma aliança com Piñera, o ex-prefeito de Santiago, Lavín respondeu:
– Não tenho a menor dúvida de que no segundo turno, no dia 15 de janeiro, Sebastián Piñera e os que hoje o apóiam vão estar comigo.
O acordo entre eles, segundo assessores das campanhas, é que o candidato que sair na frente no domingo receberá apoio do outro, em caso de segundo turno. Durante o comício de Lavín, foram distribuídos panfletos dele, defendendo “mano dura contra la delincuencia” (mão dura contra a delinqüência). O candidato disse que essa eleição “tranqüila” é a prova de que o Chile vive um momento de “respeito à democracia”. Hoje, segundo algumas pesquisas de opinião, como o CEP e o IPSOS, Lavín e Piñera estão tecnicamente empatados, com cerca de 20% dos votos. Mas o empresário Piñera, dono da companhia aérea Lan, está à frente por 2%, 4% ou até mais votos, dependendo do levantamento. Bachelet aparece com cerca de 38%, 6% a 9% pontos menos que há um mês. Na contagem regressiva para o pleito de domingo, ela cancelou seu último comício, marcado para esta quarta-feira, devido a um acidente de ônibus que deixou cinco de seus seguidores mortos.
Médica, separada e elogiada por sua gestão nas duas pastas que ocupou durante o governo Lagos, Bachelet disse à revista Caras, do Chile, que não vê problema algum em ter que enfrentar um segundo turno.
– No primeiro ou no segundo turno, acho que vencerei e serei a primeira mulher a ser presidente do Chile – afirmou.
Nesta semana, Ricardo Lagos, que deixará o governo após seis anos no cargo, disse, num programa da TV chilena, que “Bachelet vencerá duas vezes”, referindo-se a domingo próximo e ao dia 15 de janeiro. Bachelet, de acordo com diferentes analistas, conquistou o eleitorado de esquerda e de centro, a partir da sua base política, a Concertación – Partido Socialista e Democracia Cristã. Se vencer, representará o quarto governo desta frente que nasceu com a volta da democracia em 1989. Como Lagos, Bachelet foi contra a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1989). Mas seus opositores são acusados, como recordou Garretón, ou de não terem atuado para combater a repressão ou de terem sido simpatizantes a ela. Lavín é da UDI, partido que representa a direita pinochetista. Ele tentou se separar desta imagem, dizendo que desconhecia as contas bancárias de Pinochet, recentemente descobertas no exterior, e que também não sabia dos crimes de direitos humanos, segundo o analista político.
Ele votou ‘sim’ no plebiscito de 88. O plebiscito foi realizado para saber se a população queria ou não a continuidade da ditadura de Pinochet, que chegara ao poder após ataque sangrento contra o go