Publicado Quarta, 30 de Junho de 2021 às 10:47, por: CdB
Os comandantes dos policiais que mataram Lázaro puseram o corpo na viatura e festejaram. O presidente Jair Bolsonaro, que não perde oportunidade de fazer pouco da morte dos outros, divulgou um CPF Cancelado e fez piada: “Ué, ele não morreu de Covid?”. Muita gente entrou nas redes sociais para cobrar de quem não fosse bárbaro alguma crítica à vida humana destruída.
Por Carlos Brickmann
É importante acentuar: no Brasil não há pena de morte!
Lázaro era bandido feroz, perigoso, impiedoso. Mas era gente: o Brasil não tem pena de morte para que a pena de morte não seja aplicada. As coisas são simples: podemos estar ao lado da civilização ou da barbárie. Ficar com a barbárie atinge a consciência; ficar com a civilização traz problemas que são difíceis de resolver. É mais fácil ficar ao lado da barbárie, eliminando as vidas que, a nosso critério, sejam repugnantes ao convívio civilizado. O mais correto é fazer com que as leis sejam cumpridas e o mal sofra punição.
Nos Dez Mandamentos, berço das religiões com base no Deus único, há a determinação Não Matarás. Houve mortes? Houve, e não poucas; vindas, porém, do mau uso de Suas palavras. O Talmud, livro de estudos da Lei dos judeus, determina que quem salva uma vida salva Humanidade O belo poema do pastor anglicano John Donne ensina que nenhum homem é uma ilha; “A morte de qualquer pessoa me diminui, porque sou parte do gênero humano.
“Por isso não pergunte por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.”
Entre a civilização e a barbárie, fiquemos sempre com a civilização.
A caminho do impeachment
O presidente Bolsonaro garantiu que não compraria a CoronaVac, feita em cooperação pelo laboratório chinês Sinovac e o Instituto Butantan, de São Paulo. Foi aquele episódio em que o ministro Pazuello tinha comprado 46 milhões de doses e, graças aos protestos de um adolescente bolsonarista, que não queria crescer com uma vacina comunista, Bolsonaro o obrigou a dizer que não ia comprar vacina (ou “vachina”, como disse).
A partir daí, só houve confusão. As vacinas AstraZeneca, que a Fiocruz iria produzir, se atrasaram. A Pfizer ficou na fila. A CoronaVac acabou sendo comprada. E aí entrou em cena a Covachin indiana. Esta custava caríssimo, foi prometida por algo como US$ 1,5, mas saía mesmo por US$ 15,55 - mil vezes mais. Não vinha direto dos laboratório, mas de intermediários.... E correu frouxa no mercado, sem que ninguém a contestasse.
Ou melhor: dizem que um servidor público, irmão de um parlamentar bolsonarista, foi ao presidente e fez a denúncia. E daí? Daí, o maninho botou a boca no trombone e está dificílimo segurar os escândalos em série. Já há representações ao Supremo, já se prepara um super pedido de impeachment, o deputado diz que ele jamais gravaria o presidente da República, mas que, afinal de contas, ele não estava sozinho na conversa com Jair Bolsonaro e não sabe se outra pessoa andou gravando.
As pedras no caminho
Vale a pena prestar atenção no texto dos jornais que andam publicando as informações sobre possíveis irregularidades nas negociações do Governo Bolsonaro. “Informações a que este jornal teve acesso” querem dizer que pessoas do Poder estão envolvidas na distribuição de notícias. Isso quer dizer que tiveram, sim, e é melhor não perder tempo com desmentidos.
E quando começam a aparecer os parentes dos réus, aí é sinal de que a vaca se dirige rapidamente ao brejo. A oferta de um depoimento sobre seu ex-marido, proposta há poucos dias pela ex-senhora Pazuello, pode ser uma iniciativa devastadora. Mulheres o marido troca, mas ex-mulheres são para sempre.
Poeta do passado
Há uns 70 anos, José Alcides, Sátiro Francisco e Tancredo Silva criaram um ponto de macumba que, na voz de Blecaute, virou sucesso nacional. Na época nem havia um general famoso chamado Mourão, mas escolheram seu nome: “Chegou o general da banda ê ê; chegou o general da banda, ê a; Mourão, Mourão, vara madura que não cai; Mourão, Mourão, Mourão, catuca por baixo que ele vai”.
(https://www.youtube.com/watch?v=DVmYJif36yw)
Em 64, catorze anos mais tarde, um Mourão, com o mesmo nome do general da banda, foi catucado por baixo e levou suas tropas ao Rio para derrubar o presidente João Goulart. Derrubou-o sem disparar um tiro e, embora trouxesse suas tropas, entregou o Ministério da Guerra ao general mais antigo, Arthur da Costa e Silva.
Agora, surge um problema conhecido: para fazer o impeachment do presidente, é preciso ter o apoio do vice, ainda mais uando o titular ameaça usar tropas para manter-se no cargo. Será que o vice, várias vezes desautorizado pelo presidente da República, estará ou não disposto a ser destratado mais vezes e ignorado na execução de tarefas que lhe foram designadas pelo próprio presidente?
Por Carlos Brickmann, jornalista, editor do site Chumbo Gordo.Direto da Redaçãoé um fórum de debates publicado no Correio do Brasil pelo jornalistaRui Martins)