Com três passos, o poder pode voltar a ser da soberania popular, conforme estabelece a Constituição de 88, rasgada pelo golpe de 2016
Por Val Carvalho - do Rio de Janeiro
O ambiente político nacional estava tão carregado de insatisfação popular e contradições políticas que bastou um torpedo furar a poderosa blindagem de Temer, feita pela mídia e Moro, para o castelo de cartas golpista vir abaixo. Momentaneamente, o poder está flutuando e sendo disputado, desesperadamente, pelos dois grandes campos em luta: o campo democrático e popular e o bloco, agora rachado, dos golpistas.
O bloco representado pela Globo lança a tese da “concertação” para a transição até 2018. E, com a renúncia de Temer, tenta fazer de Carmem Lúcia a presidente, que é mais um jeitinho golpista brasileiro. Pela Constituição, com a saída de Temer, quem assumiria seria Rodrigo Maia. Com o único objetivo de fazer a eleição indireta do novo presidente. Mas como fazer isso, com um mínimo de legitimidade, num Congresso atolado na corrupção?
Além do mais, transição não é governo. Portanto, não poderia fazer nenhuma das reformas sonhadas pelo mercado. Somente com o povo nas ruas, ocupando Brasília e os deputados de oposição ocupando o plenário para impedir a retomada regular do processo golpista, é que podemos intervir de fato no processo em curso. E exigir, assim, a antecipação das eleições diretas. A PEC das Diretas já existe, basta aprová-la num prazo curto para as eleições diretas se realizarem ou outubro desse ano.
Soberania popular
Com três passos, o poder pode voltar a ser da soberania popular, conforme estabelece a Constituição de 88, rasgada pelo golpe de 2016.
1) povo na ruas, para impedir nova manobra da direita e dividir o bloco golpista.
2) Unidade tática das oposições numa amplíssima frente democrática para exigir a antecipação das eleições diretas para outubro desse ano e…
3) Eleição direta do novo presidente, com o apoio unitário das oposições para jogar no lixo o entulho reacionário do golpe. E fazer um programa de emergência de recuperação do Brasil.
Conseguindo a eleição de Lula presidente, e ao lado do programa de emergência, o campo democrático e popular vai definir um programa estratégico, de caráter estrutural, para a retomada da transformação do Brasil em bases sociais mais sólidas do que aquelas dos governos petistas.
Val Carvalho é articulista do Correio do Brasil.