Outro superministro na linha de tiro: núcleo militar trama contra Guedes

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Publicado Terça, 05 de Maio de 2020 às 11:56, por: CdB

Em uma entrevista coletiva, na semana passada, ao lado do ministro-chefe da Casa Civil, general Walter Souza Braga Netto, o economista Paulo Guedes tentou deixar clara sua visão neoliberal, diametralmente oposta aos planos forjados na caserna. Agora, no entanto, já circulam notícias de sua possível queda.

Por Redação - de Brasília
Desde o instante em que compareceu de máscara higiênica e sem sapatos, na ordem unida do presidente Jair Bolsonaro após a renúncia do então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, apareceu ao lado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) uma vez. Apenas para criticar o pacote econômico pós-pandemia, estruturado pela área militar do governo e reafirmar sua posição na Esplanada dos Ministérios. Nesta terça-feira, porém, o nome dele volta à berlinda, mas em condições nem tão favoráveis.
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O general Braga Netto reforça sua posição junto ao presidente Bolsonaro (C), contra o ministro Paulo Guedes
Em uma entrevista coletiva, na semana passada, ao lado do ministro-chefe da Casa Civil, general Walter Souza Braga Netto, o economista tentou deixar clara sua visão neoliberal, diametralmente oposta aos planos forjados na caserna. Agora, no entanto, já circulam notícias de sua possível queda com a aumento no processo de ‘fritura’, típico do governo Bolsonaro. Pressionado a formar uma base política, no Congresso, para evitar um processo de impedimento, o mandatário neofascista pretende elevar a participação do setor militar em cargos absolutamente essenciais, a exemplo do Ministério da Economia. Analistas ouvidos pela reportagem do Correio do Brasil concordam que este foi o argumento junto aos quartéis, que veem a necessidade de neutralizar os efeitos causados pelas contratações de integrantes do chamado ‘Centrão’, composto por políticos da direita, mas extremamente fisiológicos. Atualmente, os militares controlam oito dos 22 ministérios e têm presença efetiva em 1.349 cargos do Executivo, sem contar os outros 881 integrantes das três forças alocados no Ministério da Defesa, de acordo com levantamento do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo. Além dos postos-chave controlados, no Palácio do Planalto, Bolsonaro planeja nomear militares no Ministério da Justiça e da Economia, entre outros, encerrando de vez a era dos superministros.

Pêndulo

Diante dos efeitos causados pela pandemia do novo coronavírus na economia brasileira, Bolsonaro voltou a defender, nesta manhã, a atuação direta do governo na tentativa de minimizar os danos econômicos produzidos pela covid-19. Segundo afirmou, se não fossem os R$ 600 distribuídos pela Caixa Econômica Federal, o país estaria vivendo “uma onda de saques”. O risco, no entanto, estaria longe de terminar. Se o plano dos militares aumenta a presença do Estado junto à sociedade, o ministro Paulo Guedes prega exatamente o contrário, com a abertura para investimentos do capital privado, mesmo em áreas sensíveis da administração pública. A questão, inconciliável, tem levado o presidente à posição de pêndulo; ora apoiando o núcleo fardado, ora acenando para os neoliberais. A cena se agrava, no entanto, diante do estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), divulgado nesta manhã, que prevê a perda de até 19% dos empregos na indústria de transformação em 2020, diante da atual crise econômica. Cerca de 15 milhões de pessoas podem perder seus empregos, em todo o país, nos próximos meses.

Cenário

O estudo dos economistas da UFRJ foi feito com base em informações de 123 produtos e serviços, distribuídos por 67 atividades econômicas. O corte de quase 15 milhões de vagas seria consequência de uma retração inédita de 11% do Produto Interno Bruto (PIB), prevista para este ano. A economista Esther Dweck, coordenadora do estudo, opina que as exportações brasileiras vão contribuir pouco para a recuperação econômica. Os investimentos das famílias e das empresas também teriam efeitos limitados. As famílias se encontram endividadas, ao passo que as empresas sofrem os efeitos das incertezas geradas pelo novo coronavírus, o que as leva a represar investimentos. O cenário se complica quando se observa o setor público, que vive um cenário de perda de receita tributária. Diante dos fatos, a tese dos militares — de um substancial aumento nos gastos públicos — ganha a simpatia do presidente, que busca a qualquer custo a reeleição, em 2022.
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