Pai Querê, a bola da vez

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Publicado sexta-feira, 2 de setembro de 2005 as 10:39, por: CdB

Destruição de 5.740 hectares de mata atlântica para construção da usina de Barra Grande pode se repetir agora em Pai Querê, entre o RS e SC. O que é assustador é que a empresa acusada de fraudar o laudo ambiental em Barra Grande está no jogo outra vez.

Nos dias 27 e 28 de agosto, um grupo de pesquisadores e alunos do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), junto com ambientalistas da ONG Núcleo Amigos da Terra, realizaram uma expedição de reconhecimento da área prevista para o empreendimento hidroelétrico Pai Querê. A construção da hidroelétrica Pai Querê é prevista para uma área a leste da hidroelétrica Barra Grande, no rio Pelotas, entre os municípios de Bom Jesus/Vacaria (RS) e São Joaquim/Bom Jardim da Serra (SC). Os registros desta expedição, combinados com o triste histórico de Barra Grande, devem servir como um sinal de alerta para aqueles que se preocupam com o destino do meio ambiente e com os meios, senão com os fins, da política energética do país.

<b>Barra Grande e Pai Querê</b>

As principais empresas que constituem o Consórcio Empresarial Pai Querê são praticamente as mesmas que, apesar da fraude no levantamento de impacto ambiental, com a bênção do governo federal e dos governos estaduais (RS e SC) e a inacreditável conivência do Judiciário, estão afogando, desde o início de julho, 5740 hectares de mata atlântica em Barra Grande: Alcoa Alumínio S.A. e DME Energética Ltda. Além destas, também integra o consórcio a Votorantim Cimentos Ltda.

Esta não é a única semelhança entre Pai Querê e Barra Grande, nem é a menos assustadora: o EIA-RIMA que dá início ao processo de licenciamento foi realizado pela mesma Engevix S.A. que, no caso de Barra Grande, omitiu, fez que não viu, o equivalente a uns 10 mil campos de futebol, cobertos de Mata Atlântica. A pergunta que dever ser feita é: as semelhanças param por aí?

<b>Pai Querê – Meio ambiente em perigo</b>

Assim como em Barra Grande, a inundação prevista afetará importantes ecossistemas naturais e espécies da flora e fauna endêmicas, raras e/ou ameaçadas de extinção. Segundo informações no diagnóstico ambiental do EIA-RIMA, serão afetados 329.600 km2 de campos nativos (62,75% da área de influência indireta) e 134.093 km2 de mata com araucária (25,53%). Já na área de influência direta (o que será inundado, ou seja, totalmente destruído), são 11,8 km2 de campos nativos (19,22%) e 39,4 km2 de matas de araucária (64,17%). Ainda neste EIA-RIMA, o estudo fitossociológico (informações quantitativas da vegetação) aponta apenas 22 espécies de árvores (o que é absolutamente inverossímil para os padrões da Floresta Ombrófila Mista), sendo 16 delas identificadas de modo falho: 5 espécies não são identificadas e 11 são identificadas apenas pelo gênero.

Ou seja, 70% do levantamento fitossociológico não tem valor técnico. Mesmo ignorando o histórico da Engevix, estes dados já apontam, para dizer pouco, a “fragilidade” do estudo, já que a falta de identificação correta das espécies impossibilita a análise real do impacto da inundação.
Outro problema com o EIA-RIMA de Pai Querê, em comum com o de Barra Grande, é a falta de dados fitossociológicos das espécies de reófitas (espécies restritas aos rochedos dos rios) como a Dyckia distachya (bromélia endêmica), Zephyranthes flavescens (lírio-amarelo-das-pedras), Cuphea sp. (sete-sangrias rara) e Collaea sp. (espécie ainda não descrita pela ciência). Mais uma vez, sem o diagnóstico adequado deste grupo de plantas, jamais saberemos a real dimensão do dano ambiental.

Outra espécie importante da flora nativa, identificada na expedição do final de agosto, foi Oreopanax fulvum (tamanqueira), uma espécie presente na lista da flora ameaçada do RS. Apesar de ocorrer com relativa freqüência em alguns tributários do rio Pelotinhas, como os arroios das Mochas e dos Touros, esta espécie nem sequer foi registrada no levanta