Publicado Quarta, 11 de Maio de 2022 às 10:08, por: CdB
Embora uma parcela do empresariado tenha se dedicado a buscar alguém disposto a enfrentar os líderes das pesquisas de opinião, o desânimo é visível diante da inviabilidade da chamada ‘Terceira Via’, com um nome da direita. Numa dessas articulações, um grupo de 12 empresários e grandes investidores reúne-se sempre às quartas-feiras.
Por Redação, com Bloomberg - de São Paulo
O discreto clube dos brasileiros mais ricos está diante de um dilema, com a aproximação da eleição de 2022. Ao mesmo tempo em que não suporta mais quatro anos com Jair Bolsonaro (PL) na Presidência,o discurso mais à esquerda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assusta uma parcela do Produto Interno Brasileiro (PIB).
O empresário Lafer Piva ainda busca um candidato para a chamada 'Terceira Via'
Embora uma parcela do empresariado tenha se dedicado a buscar alguém disposto a enfrentar os líderes das pesquisas de opinião, o desânimo é visível diante da inviabilidade da chamada ‘Terceira Via’, com um nome da direita. Numa dessas articulações, um grupo de 12 empresários e grandes investidores reúne-se sempre às quartas-feiras, desde o ano passado, para discutir uma agenda e ouvir os pré-candidatos.
Outro círculo
A maior parte dos encontros ocorreu de forma digital e o grupo reuniu-se com os tucanos João Doria, Eduardo Leite, Sergio Moro (União Brasil) e Simone Tebet (MDB). Nenhum deles viável eleitoralmente, segundo as pesquisas. Em outro círculo, as conversas ocorrem nos grupos de WhatsApp.
Um dos raros empresários a vocalizar essa insatisfação é Horácio Lafer Piva, acionista e presidente do conselho de administração da Klabin. Junto com Pedro Passos (Natura) e Pedro Wongtschowski (Grupo Ultra), Lafer Piva tem escrito artigos em jornais e dado entrevistas nas quais apoia, publicamente, uma candidatura do “centro democrático” e uma agenda de competitividade para o país.
Numa conversa com a agência norte-americana de notícias Bloomberg Línea em seu escritório na Faria Lima, semana passada (antes do lançamento da chapa Lula-Alckmin no último sábado), o empresário se disse “exasperado” com as alternativas para enfrentar um quadro econômico mais complicado em décadas, com inflação fora de controle, juro em alta nos Estados Unidos e uma tendência internacional a um revival do protecionismo, além da guerra na Ucrânia. No ambiente doméstico, ele vê um “constrangimento fiscal” se arrastando pelos próximos anos.
— A pior recorrência da vida do brasileiro é a mentalidade de curto prazo, que tira do país a oportunidade de ter um projeto consistente. O país poderia ser líder no mundo na economia verde, na questão da monetização do carbono, mas olhe para o Brasil hoje, o país vai pagar uma conta muito cara pelo comportamento de hoje com a Amazônia e o meio ambiente. E não vejo movimentos para o centro — observa.
Discurso
Para Lafer Piva, Bolsonaro foi o fruto da mentalidade de curto prazo e chegou à Presidência surfando na urgência do eleitorado para “tirar o PT”. E, no último ano do seu mandato, disse, entregou aumento de gastos sem qualidade – como o loteamento do Orçamento da União através das emendas parlamentares –, deterioração da imagem do país no exterior e crise econômica.
— A maior marca desse governo, no entanto, é o desserviço que presta ao investir contra as instituições. Tanto assim que tem gente até achando alguma graça no Lula de novo. Já o Lula tem uma militância que não tem preocupação se o discurso dele está envelhecido ou não — acrescenta Piva.
A ponderação, explica, não significa uma equivalência entre os dois candidatos que estão à frente nas pesquisas. Embora reconheça no petista credenciais democráticas, Lafer Piva ainda vê a necessidade de que a tal ‘Terceira Via’ ofereça uma alternativa à polarização, mas admite que isso é cada vez mais difícil.
— Essa demora leva as pessoas a tomarem posições, mas não são posições convictas — concluiu.